Cida Pedrosa pede apuração de vandalismo nas placas do Memorial Tortura Nunca Mais e aprova projeto de lei
"Por que as placas foram vandalizadas?", questionou. "Porque existe uma cultura em que se mistifica a tortura como algo aceito em certos casos. Temos, no Brasil, dentro das nossas estruturas públicas autoritárias, a construção de que a tortura é um instrumento do braço da justiça do Estado. Infelizmente, a construção dos direitos humanos - onde o corpo físico e psíquico do cidadão e da cidadã têm que ser mantido com sua integridade - está longe de acontecer", lamentou a vereadora.
De acordo com Cida Pedrosa, o estado autoritário entende a tortura como instrumento possível. "Aquele monumento foi colocado ali para a gente dizer todos os dias: "tortura nunca mais", "ditadura nunca mais". Não podemos entender a vida fora do estado de garantia de direitos, fora da democracia, e aquele monumento é isso, é um apelo para que todos digam "não" a qualquer tipo de estado autoritário, de qualquer atitude que não seja dentro da democracia. Digam "não" ao pau-de-arara tão utilizado pela ditadura e que nós sabemos que ainda são utilizados hoje. Aquele monumento fala do salto civilizatório que a nossa sociedade deu para jogar longe qualquer tentativa obscurantista, autoritária e golpista".
Em aparte, a vereadora Liana Cirne (PT) relembrou que os ataques ao memorial da verdade e da justiça tem se repetido. "Infelizmente não é a primeira vez que essa Câmara depara com esses atos de vandalismo. Lamentavelmente há um grupo interessado em apagar uma página da história do nosso País que nos envergonha, nos entristece, mas que existiu. Sem a preservação da memória a gente não supera essa página em que houve tortura, estupros, retirada dos filhos de suas famílias, morte e desaparecimento. A gente não supera essa página da história arrancando a página do livro, a gente supera relendo essa página todos os dias. Se hoje vivemos numa democracia e temos o direito de falar é porque essas pessoas entre nós lutaram por este direito e garantir o nome destes homens e mulheres escritos no memorial é um dever nosso", afirmou.
Por sua vez, o vereador Luiz Eustáquio (PSB) pontuou que o requerimento chegou num momento oportuno. "Porque estamos enfrentando exatamente isso, o momento onde a sociedade está começando a entrar na linha de alguns ditadores. Você precisa lembrar às pessoas que isso de querer dizer que a história não aconteceu, querer negar a verdade não serve, porque esse monumento é para lembrar ao povo que existiu tortura, assassinato, sofrimento e que não podemos voltar atrás".
Atletas - A vereadora Cida Pedrosa voltou à tribuna da Câmara Municipal para defender e pedir o apoio dos parlamentares ao projeto de lei número 248/2021, de sua autoria, que institui a obrigatoriedade dos clubes de futebol sediados no município do Recife a promoverem a formação em direitos humanos aos atletas de suas categorias de base. “Tenho a certeza de que este é um projeto que será bem recebido pelos clubes de futebol que acreditam na construção de um mundo melhor. O que estamos propondo é a construção de um mundo melhor”, resumiu.
O projeto de lei foi aprovado em primeira votação e deverá voltar ao plenário para a confirmação do resultado. “O que nos motivou a dar entrada nesse projeto de lei foi o escandaloso caso envolvendo o artista Gil do Vigor. Ele foi constrangido por diretores do Sport, quando, no ano passado, fez uma ação em favor do Sport. Um diretor do Sport o discriminou por ele ser gay. Foi uma atitude preconceituosa, LGBTQIfóbica”.
Para a vereadora, os garotos e garotas que pretendem ser atletas precisam “compreender muito mais do que jogar bola. Precisam aprender a ter respeito às mulheres, à população LGBTQIA+, às diferenças de etnia, a não ser racista”. Segundo ela, é comum, “dentro da estrutura machista do futebol, ter casos de abuso no que diz respeito às mulheres”, da mesma forma que “é comum na estrutura patriarcal do futebol, ter casos de LGTBQIA+. Os casos de racismo também são diários”.
O projeto de lei propõe que os jovens atletas “possam ter acesso a uma formação de 36 horas, ao ano, de educação que trate dos direitos das mulheres, da diversidade, e o combate ao racismo. Queremos aproximar jovens de temas que os tornarão melhores para a vida”. O projeto de lei também propõe que a formação pode ser realizada através de uma parceria dos clubes de futebol com o poder público municipal, através de suas secretarias municipais.
Em 22.02.2022