Dani Portela defende memória dos desaparecidos políticos da Ditadura Militar
As placas foram vandalizadas no dia 11 de fevereiro. Já na semana passada, Portela proferiu um discurso solicitando que o memorial fosse restaurado. Já ao discutir o pedido de Pedrosa nesta terça-feira, a parlamentar do PSOL deu um depoimento sobre a história de sua família em relação aos abusos cometidos no período da Ditadura Militar brasileira.
Filha adotiva de um ex-preso político, ela contou que seu pai adotivo ficou estéril devido a torturas sofridas no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), um dos principais órgãos de repressão da Ditadura instalada em 1964 no Brasil. “Ele foi levado para o Rio de Janeiro e lá foi torturado inúmeras vezes. Eu cresci sendo acordada na madrugada por gritos. Ele tinha pesadelos e acordava muito apavorado. Ele morreu em 2016, aos 87 anos, e conviveu com esse horror da ditadura durante toda a vida”, relatou. “Em uma dessas madrugadas, quando eu tinha 17 anos de idade, ele contou que aqueles gritos vinham de uma noite no cárcere em que ele foi acordado com gritos de uma mulher sendo torturada por uma madrugada inteira. Horas depois, ele escutou o choro de uma criança na cela vizinha a dele. Uma mulher dava à luz uma criança. Depois, ele soube que aquela mulher e aquela criança morreram”.
Dani Portela relacionou os ataques à memória dos desaparecidos na Ditadura com a persistência do apoio ao regime militar por figuras como a do atual presidente da República. “Eu queria partilhar que naquela cela ao lado dele estava o coronel Brilhante Ustra, que infelizmente não foi só o pavor da ex-presidenta Dilma Rousseff, mas o pavor do meu próprio pai durante toda uma vida. Foi por isso que, naquele dia, eu fiz uma promessa: eu chegaria um dia na política. E, em 2016, na época do golpe contra a ex-presidenta Dilma – porque, para mim, foi um golpe –, na votação do impeachment, o então medíocre deputado federal Jair Messias Bolsonaro sobe à tribuna e dedica aquele voto à memória de um dos piores torturadores da história do Brasil. Tomei uma decisão: eu colocaria o meu corpo e a minha luta à disposição da memória dos presos e desaparecidos políticos deste País”.
Segundo a vereadora, a preservação da memória dos crimes praticados pela Ditadura e iniciativas como a Comissão da Verdade são formas de manter vivo o enfrentamento aos ataques contra a democracia. “A democracia é muito recente na história do Brasil e ela é ameaçada cotidianamente desde 2018. A gente não pode banalizar termos como fascismo, ditadura, autoritarismo. Mas a gente vive tempos sombrios. Por isso, é tão importante essa memória. Cada placa que está ali é a história de uma vida que foi ceifada por uma recente ditadura que existiu no nosso país. Precisamos restaurar não uma simples placa, mas uma história”.
Em 22.02.2022