"Não podemos silenciar", diz Liana Cirne sobre assassinato de criança de 9 anos no Engenho Roncadorzinho

Na reunião Ordinária da Câmara Municipal do Recife desta segunda-feira (14), a vereadora Liana Cirne (PP) lamentou o assassinato a tiros de uma criança de nove anos, dentro de casa, na noite da última quinta-feira (10), no Engenho Roncadorzinho, no município de Barreiros, na Mata Sul de Pernambuco. A região vem sendo palco de conflitos já há algum tempo, com uma série de denúncias de ameaças e violências. Na tribuna da Casa, a parlamentar ressaltou que o ocorrido não pode ser silenciado.

Liana Cirne explicou, de uma forma poética, o acontecido com a criança. "2022, Engenho do Roncadorzinho, município de Barreiros, Zona da Mata Sul de Pernambuco. Sete homens armados e encapuzados entram na casa de Geovane Silva, presidente da Associação de Moradores, que são agricultores familiares, disparam embaixo da cama que se esconde Jonatas, criança de nove anos, e a sua mãe".  

Em seu discurso, a parlamentar fez uma comparação da cena do assassinato de Jonatas com um clássico de Western de 1968, “Era uma vez no Oeste”, de Sérgio Leone, que retrata o assassinato de um pai e todos os filhos por conflito fundiário. "Jonatas morre, assim como no faroeste, que é o nosso clássico do gênero. Barreiros também viveu o faroeste. Sem atores, sem câmeras, sem trilha sonora. Em comum, a motivação: um conflito de terras. Terras que há 40 anos esses agricultores vivem porque eram trabalhadores da Usina Santo André do Rio Una, que pediu falência há 20 anos. Os moradores são credores porque nunca receberam suas verbas rescisórias. A terra foi arrendada pela Agropecuária Javali e, hoje, a massa falida administrada pela justiça é cobiçada por empresas da cultura da cana-de-açúcar", citou. 

A vereadora ressaltou que a Casa de José Mariano não pode ficar em silêncio diante da barbaridade do caso. "Para concluir, eu digo: a morte de Jonatas precisa chocar e indignar. Jonatas morreu embaixo da cama, que é um lugar simbólico onde as crianças se escondem quando estão com medo. Essa barbárie repugna, repudia. E nós, da Casa de José Mariano, não podemos nos silenciar em relação ao que aconteceu com Jonatas. Mesmo com toda a barbárie naturalizada, há um limite, e esse limite foi cruzado", pontuou.

O Caso -  O menino Jonatas do Santos, 9 anos, era filho do presidente da Associação dos(as) Agricultores(as) familiares , Geovane da Silva Santos, uma das principais lideranças do Engenho do Roncadorzinho. Segundo os relatos da família e de moradores, sete homens encapuzados e fortemente armados invadiram a casa, na quinta-feira (10), por volta das 21h, atiraram em Geovane, que foi atingido de raspão no ombro, e depois alvejaram a criança, que se escondia no quarto, debaixo da cama com a mãe.

De acordo com informações da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e da Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Pernambuco (Fetape), residem no local cerca de 400 pessoas, há mais de quatro décadas, e alguns conflitos vêm ocorrendo por conta da disputa das terras. Essa não é a primeira vez que a casa de Geovane é alvo de atentados.   

Em 14.02.2022