Comissão Especial de Grandes Eventos debate Ciclo Junino 2022
Segundo o presidente do colegiado, vereador Marco Aurélio Filho, a Comissão entende a necessidade de debater o retorno seguro cumprindo todos os protocolos sanitários vigentes daqueles que fazem o Ciclo Junino da cidade. “Propomos a realização desta audiência pública, para que juntos com estes profissionais, Poder Executivo, profissionais da saúde e todos que direta e indiretamente participam dessa festividade, possam contribuir e buscar soluções para a elaboração de medidas que viabilize, com segurança, a realização dos festejos juninos”.
Naftaly Renata, presidenta da Liga de Quadrilhas do Recife, disse que a situação das quadrilhas é muito difícil. “Estamos retomando com muito sacrifício e o que desejamos é atenção e retorno porque muitas quadrilhas não irão funcionar totalmente porque não têm dinheiro. Muito difícil fazer São João no Recife”. Tereza Accioly, presidenta da Associação dos Forrozeiros de Pé de Serra de Pernambuco, citou sugestões para alterar o cachê e anistiar impostos. “Um cachê de um trio pé de serra é, no máximo, R$ 3 mil reais. Que passe para o valor de R$ 5 mil reais, no mínimo, observando os índices da inflação, sem comprovação de cachê. E que sejamos anistiados de impostos referentes aos últimos dois anos de pandemia”.
Michelly Miguel, presidenta da Federação de Quadrilhas de Pernambuco (Fequajupe), lamentou as dificuldades de ensaio e dos valores dos cachês. “Nós precisamos ensaiar nas quadras dos colégios e não podemos. Sobre os valores de cachês, são mais de dez anos sem aumento, e em Caruaru já elevaram para R$ 5 mil reais sem comprovação de cachê. Nossas quadrilhas têm, no mínimo, 60 pessoas e o grupo ganha R$ 3 mil reais. O aumento precisa ser avaliado”.
O artista Matheus, portador de necessidades especiais, enfatizou a falta de acessibilidade no São João e alertou sobre as quadrilhas mirins. “A acessibilidade precisa ser algo protocolado, que tudo a ser produzido tenha acessibilidade. Nós também somos protagonistas da cultura. Precisamos ter uma grande visão sobres as quadrilhas mirins e entendermos as necessidades deles. Nesse ano, por exemplo, não tem nenhum grupo ativo mirim e isso é não olhar para o futuro”. Alexandre Franklin, da quadrilha Zabumba, disse que a cultura estava sendo abafada. “Por conta das dificuldades e faltas de incentivo, espaços e sensibilidade. A gente mexe com um mercado financeiro e, desde 2019, vivemos um momento caótico financeiro. Muitas vezes não somos reconhecidos”.
O artista Rogério Rangel citou o perigo de diminuir a qualidade das apresentações se o valor do cachê for mantido. “Cada um dos integrantes já está me cobrando o valor do cachê. O combustível dobrou de preço, por exemplo. É difícil, urgente e precisamos tentar resolver essa questão". O artista Charles Teone disse que sente falta da cultura e a arte assumirem mais a cidade. “Nos anos 90, a cultura era assumida em todos os mercados públicos. Você chega no aeroporto, temos imagens de artistas que não têm a ver com a nossa cultura. A culinária, música, dança e sotaque são essenciais. É primordial elaborar projetos que assumam a cidade. Seriam ótimas iniciativas e isso alimentaria a nossa juventude”.
Cleiton Santos, do grupo Origem Nordestina, citou as dificuldades das quadrilhas juninas e sugeriu uma Lei. “Uma quadrilha gasta R$ 150 mil reais e o cachê dela é de R$ 3 mil reais. Isso magoa o movimento. Temos um decreto sobre subvenção e gostaríamos que se torne lei no Recife. Contamos com essa Casa, precisamos dar as mãos e que sensibilize o prefeito do Recife. Agradeço esse espaço”.
Rosemberg da Paz, da quadrilha junina Tradição, lamentou que os dois últimos anos foram de tristeza. “O Morro da Conceição estava parado e doeu na alma esse acontecimento. Não moro no Morro, mas convivo alguns anos, e foi terrível subir as escadarias e perceber que nada estava acontecendo. Fizemos cotinha entre os próprios diretores para pagar imposto. A falta de incentivo dos gestores das escolas é muito difícil. Olhem com carinho para nós como equipamento de transformação da comunidade. A quadrilha junina ajuda, tira das drogas e reinsere essas pessoas por meio da cultura”.
Fábio Sotero, da Associação dos Maracatus Nação de Pernambuco (AMAMPE), disse que a cidade do Recife precisar reconhecer mais os seus artistas e que as unidades de ensino precisam valorizar mais a cultura local. “Não consigo entender que o Recife tem uma riqueza gigantesca, mas não consegue valorizar a cadeia produtiva. Sobre os espaços nas escolas para ensaio, gostaria de dizer que não tem nenhuma política que faça com que as escolas ensinem o que é a nossa cultura popular. Não tem no currículo escolar”.
Bruno Soares, da Federação de Quadrilhas de Pernambuco (Fequajupe), também citou as dificuldades nas escolas com os espaços e sugeriu um apoio com a Secretaria de Juventude. “Seria estreitar esses laços da pasta com as quadrilhas juninas, e tornar essas instituições de ensino fontes para capital e material humano. Além disso, seria essencial introduzir uma lei nas escolas visando o desenvolvimento de quadrilhas infanto-juvenis, infantis ou mirins”.
Paulo Maffe, do Centro de Formação, Pesquisa e Memória Cultural Casa do Carnaval, disse que tem que habituar as crianças a ouvirem músicas da cultura local. “Criar o incentivo é preciso. Se só escuta o passinho ele vai achar que é natural. Tem que habituar o forró, frevo e xaxado. Ela vai crescendo e essa consciência vai sendo desenvolvida”. Sônia Pinto, conselheira de Cultura e representante da quadrilha Dona Matuta, pontuou que era importante da retomada do Ciclo Junino para a cidade do Recife. “Passamos dois anos em sufoco grande onde os artistas e a cultura perderam muito. Quando se fala em cachê, ele está defasado. Tudo aumentou. Quando a gasolina sobe, tudo aumenta. Os cachês recebidos não suprem as necessidades. O apoio do transporte é muito importante porque é complicado para as quadrilhas”.
Roberto Carlos, incentivador da cultura popular, enfatizou que as quadrilhas juninas requerem tempo e dinheiro. E destacou que seria necessário haver uma lei que ajude o setor cultural junino. “Desde 2018, lutamos para que o decreto número 31.414/2018 vire Lei. E gostaria muito que os vereadores e vereadoras encabeçassem a formação dessa proposição para comemorarmos essa lei. Acabamos de ter a lei do Patrimônio Vivo e é preciso que o segmento das quadrilhas junina seja reconhecido”.
Aldemar Araújo, representante da cultura popular, ressaltou que ouviu muitas falas oportunas na audiência pública e pontuou que o Recife é cultura de janeiro até dezembro. “Temos que ter disposição e que a Secretaria de Cultura e a Fundação de Cultura ofereçam formação aos artistas e, também, ao público. Que sejam apontados caminhos possíveis. A Comissão vai trabalhar com aquilo que a gente apontar. Recife tem mostrado ultimamente, por exemplo, encontros nos mercados públicos durante o São João, mas ainda é pouco. Queremos mais. Sem a gente, o Brasil perde a carteira de identidade. Estou junto com vocês, com a Comissão e com a Prefeitura”.
Ao final dos debates, Marco Aurélio Filho disse que encaminhará aos presentes, representantes do governo e das quadrilhas, um documento com as sugestões propostas na reunião.
Em 11.04.2022