Dia Nacional do Choro é celebrado em reunião pública na Câmara

A vereadora Cida Pedrosa (PCdoB) promoveu uma reunião pública para comemorar o Dia Nacional do Choro (23 de abril), na tarde desta segunda-feira (25), no plenarinho da Casa de José Mariano. “Além de celebrarmos a data, apresentamos um projeto de lei para criarmos o Dia Municipal do Choro, a ser marcado na data de 18 de julho. O Dia Municipal tem como objetivo promover e valorizar o gênero musical, enquanto importante símbolo da cultura popular no Recife. Também debateremos, nesta reunião pública, políticas públicas ligadas a este segmento”.

Compuseram a mesa o secretário-executivo de Articulação do Recife, Gilberto Sobral; a diretora do Conservatório Pernambucano de Música, Roseane Hazin; o gestor do Centro de Criatividade Musical, Murilo Apolinário; e o gestor da Escola de Artes João Pernambucano, Antônio Cabral. Os artistas Beto do Bandolim e Nuca Sarmento fizeram a apresentação de uma valsa, criada por Beto do Bandolim chamada ‘Cida’, para homenagear a parlamentar. Além deles, Dalva Torres também cantou uma música como forma de expressão. 

Segundo Cida Pedrosa, o projeto de lei 92/2022, em tramitação na Casa de José Mariano, pretende instituir o “Dia Municipal do Choro Luperce Miranda”. A parlamentar explicou as influências do ritmo e detalhou a história desse gênero musical tão conhecido pelos brasileiros. “O Choro, ou Chorinho, é considerado o primeiro gênero musical popular do Brasil, e o único genuinamente brasileiro, desenvolvido a partir da fusão entre elementos eruditos e populares no período em que o país ainda era Império. Assim como o Rio de Janeiro, Pernambuco também é um grande celeiro de choristas, os quais trazem nos acordes uma identidade própria com referências no baião, xote e frevo. A capital Recife já abriga diversos eventos de Chorinho e o projeto “Recife Carinhoso”, no qual reúne grandes artistas em execuções complexas e arranjos sofisticados, que é abraçado pelo público e cumpre com louvor a missão de difundir o estilo”.

A parlamentar enfatizou o motivo da escolha de Luperce Miranda como nome do Dia Municipal e pontuou que era uma demanda da sociedade civil. “A data escolhida para o Dia Municipal do Choro homenageia Luperce Miranda, recifense, do bairro de Afogados, nascido em 28 de julho de 1904, filho de bandolinista, o qual, ainda menino, começou a tocar Bandolim e compôs seu primeiro frevo aos quinze anos. Na década de 1920, provocou a primeira onda nordestina no cenário musical carioca, quando teve suas músicas gravadas pelo grupo Turunas no Rio de Janeiro. Em 1930, acompanhou, como instrumentista, grandes nomes da música, como Mário Reis, Carmen Miranda e Francisco Alves. Luperce também é o responsável pela presença do Bandolim na Música Popular Brasileira. Escreveu mais de 500 composições como “Picadinho à Baiana” e “Segura o dedo” e participou de mais de 700 gravações. Consideramos, portanto, justíssimo homenagear este recifense brilhante e notório na Música Popular Brasileira, inspiração para tantos outros músicos e musicistas, especialmente os amantes do choro. Destacamos, ainda, que este projeto de lei foi criado a partir de uma demanda da sociedade civil organizada, por meio do coletivo “Isto é Choro!”, que vem realizando um importante movimento de valorização do gênero musical em todo o Estado, especialmente na capital Recife”.

Roseane Hazin, diretora do Conservatório Pernambucano de Música, disse que o choro surgiu no Rio de Janeiro, fruto de um efervescente cenário que reunia músicos de sopro, oriundos de bandas militares, violonistas e até mesmo pianistas. Ela afirmou que a escolha de Luperce Miranda foi muito acertada. “O choro foi se estabelecendo pouco a pouco como o mais importante gênero instrumental do país, a partir dos pioneiros Joaquim Calado, Chiquinha Gonzaga, Anacleto de Medeiros e Ernesto de Nazaré. Os instrumentistas e compositores que surgiram injetaram no choro a música da sua região, enriquecendo a sonoridade. Aqui, em Pernambuco, destacaram-se muitos nomes. O Conjunto Pernambucano de Choro é um dos grupos que ajudou a consolidar o ritmo pernambucano nas últimas décadas. Luperce Miranda é justo àquele que foi o maior bandolinista brasileiro, antes de Jacó do Bandolim. Lembramos também que, na terra do frevo e do maracatu, o choro é um segundo idioma para muitos artistas”.

Murilo Apolinário, gestor do Centro de Criatividade Musical, disse que falar do choro era algo muito profundo e recordou do início da sua carreira, na Filarmônica Euterpina, na cidade de Timbaúba. “O choro toca na minha alma e como pernambucano, quando iniciei na Filarmônica de Euterpina, eu o levo não só para as minhas atividades artísticas, como as pedagógicas também. Estou muito emocionado por esse momento de consagração aqui, no Recife. Todo semestre fazemos um trabalho relacionado ao choro, e essa semana estamos celebrando o ritmo. Como músico, acredito que o choro precisa ser mais acolhido e a iniciativa de Cida Pedrosa é fantástica. Gostaria de parabenizar a todos os chorões que resistem”.

O gestor da Escola Municipal de Artes João Pernambuco, Antônio Cabral,  ressaltou que o choro faz parte da alma brasileira. “A gente não pode deixar, em nenhum momento, de reverenciar esse estilo de música. Estou como gestor da escola que trabalha com quatro linguagens artísticas: música, teatro, dança e artes visuais. Muito nos regozija ter o nome do nosso João Pernambuco, e sabendo que ele foi um dos maiores representantes do choro e continua até hoje sendo divulgado e tocado”, disse. 

“Acho importante que a gente trabalhe para que o choro faça mais parte do dia-a-dia do recifense, do Pernambucano. A importância que ele tem para a cultura brasileira, pernambucana e até mundial para que seja realmente uma coisa que faça parte do cotidiano e dos eventos promovidos pela Prefeitura do Recife. Quero contribuir para que, de alguma forma, a gente possa fazer desse dia o Dia Municipal do Choro do Recife”, afirmou. 

Membro do Coletivo Isto é Choro, Wagner Staden, contou que o grupo foi formado através de toda uma construção popular, cultural e acadêmica em prol da discussão e melhorias para os artistas da área. “É com muita felicidade que a gente chega a esses momentos de que o trabalho que fazemos diariamente está dando frutos, tendo essa reverberação no legislativo, no Executivo. A gente espera que essa data simbólica não seja apenas festiva, mas uma data onde o Poder Público enxergue o choro de uma maneira melhor. O choro vive, independente de qualquer coisa, mas para ele ter essa importância e ser um símbolo nacional, ele deve ter essa acolhida e atenção do Poder Público, que é quem pode abrir caminhos e possibilidades”, salientou. 

Por sua vez, o secretário-executivo de Articulação do Recife, Gilberto Sobral, pontuou que a iniciativa da parlamentar chega em um momento fundamental. “O choro está em processo de reconhecimento como patrimônio nacional. Quando a gente olha para o choro e vê que foi o primeiro gênero musical popular brasileiro, podemos dizer que ele é pai das outras manifestações populares do Brasil”. 

De acordo com Gilberto Sobral, Recife é a cidade ideal para o choro. “Não tem cidade com mais cara de chorinho do que o Recife. Não existe nada que remeta mais a alma boêmia do Recife do que o choro”. Além disso, ele informou que a cidade deverá ter um palco no São João para celebrar o choro. “A gente precisa ver os Ciclos de Carnaval e São João, que têm um leque de contratações maiores e vemos ritmos que não são típicos da época, mas são do Recife. Já existe a previsão de termos o palco Cidade da Música para celebrar essa diversidade cultural no São João”. 

Outros artistas e defensores do choro que estiveram presentes na audiência puderam participar abordando o assunto. Na ocasião,  deram sugestões de como dar ênfase no choro no Recife para reforçar o conhecimento do gênero musical. 

Encaminhamentos - Ao final da discussão, a vereadora Cida Pedrosa (PCdoB) falou sobre os encaminhamentos que a audiência gerou. “Propostas de editais exclusivos para o choro; que a Prefeitura garanta uma programação permanente do choro; apoio às iniciativas já existentes; propor a discussão das emendas parlamentares para uma programação de choro na Rádio Frei Caneca; e a criação de uma escola específica de choro e circuitos", disse. 

Em 25.04.2022