Ana Lúcia denuncia transferência de aluno autista

"Até quando vamos tratar o espectro autista como se fosse uma doença?", questionou a vereadora Ana Lúcia (Republicanos), na reunião Ordinária da Câmara do Recife desta terça-feira (17), ao repudiar o pedido de uma escola particular, de classe média alta da cidade, para transferir um aluno adolescente com autismo. Ela se dirigiu sobretudo a professores, educadores, donos de escolas e pessoas que trabalham com educação, destacando que o papel de cada um é vencer o desafio da inclusão dos alunos. A parlamentar disse que trazia a denúncia à tribuna da Casa por ter sido procurada por "uma família que está desesperada".

"É muito grave você ouvir de uma família que recebeu a transferência do filho, em mãos, porque a escola disse que não tinha mais como acolhê-lo e nem sequer [a escola] considerou que se trata de um adolescente com espectro autista", lamentou a vereadora. Ela destacou ainda que a instituição de ensino não levou em conta que o adolescente cursa o ensino médio e  que falta menos de seis meses para terminar o ano letivo. Um período considerado complexo para se procurar uma nova escola.

Outro ponto destacado pela vereadora, é que a mãe do adolescente lhe contou que uma outra família fez uma queixa à polícia contra ele, por causa de postagens em redes sociais em que o jovem reclamou do atendimento que recebia da escola.  "Uma família prestou queixa contra o adolescente, que é autista. Está dizendo na intimação que a mãe tem que comparecer com ele sob pena de revelia, porque esse estudante, que tem 14 anos e tem altas habilidades, fez postagens dizendo que a escola não se preocupa com ele e que não é visto como uma pessoa humana". 

Ana Lúcia é presidente da Comissão de Educação da Câmara do Recife, trabalhou durante várias décadas como professora e gestora de escolas públicas. Conforme costuma dizer, conhece a realidade do "chão da escola" e já acompanhou muitas histórias de superação que só a educação é capaz de fazer.  "Temos que tentar trabalhar com todas as crianças dentro das nossas limitações, cumprindo o que é de princípio, que são as legislações. Onde vamos parar se a sociedade continuar preconceituosa e se os profissionais, ao invés de acolher, de buscar caminhos para ajudar nessa superação de desafios e limites - transferir o estudante e dizer para a família que não tem mais como trabalhar com ele?". 

A vereadora sugeriu, então, a criação de uma comissão de vereadores da Câmara do Recife para entrar em contato com o estabelecimento de ensino particular e conversar a respeito. Ela disse que já tentou contato, mas não teve retorno.

 

Em 17.05.2022