Câmara concede Medalha Olegária Mariano à ativista Edicléa Santos

Fundadora do Espaço Mulher do Passarinho e do movimento Ocupe Passarinho, a ativista Edicléa Santos foi laureada pela Câmara do Recife com a Medalha de Mérito Olegária Mariano nesta quinta-feira (12), em solenidade no plenário da Casa. A proposta da homenagem partiu da vereadora Dani Portela (PSOL). O vereador Ivan Moraes (PSOL) presidiu a reunião solene, que contou com a presença de mulheres dos movimentos feminista e negro.

Na tribuna do plenário, Portela classificou Edicléa Santos como uma “inspiração”. Se dirigindo à homenageada, explicou por que a escolheu como a primeira pessoa a ser celebrada pelo seu mandato com uma das medalhas de honra do Legislativo Municipal. “Se hoje estou aqui, devo isso à luta e à organização de tantas mulheres como Cléa. No dia em que a cidade do Recife, o Estado de Pernambuco e este País forem melhor para você, vai ser melhor para todas as pessoas”.

Em seu pronunciamento, a parlamentar teceu elogios ao trabalho realizado pelo Grupo Espaço Mulher do Passarinho, que atua como uma rede de apoio e empoderamento voltado para as mulheres da comunidade. “O Grupo Espaço Mulher se tornou uma ‘casa-abraço’: um espaço de acolhimento, de terapia, de cuidado. Um espaço de mulheres que aprenderam termos que eram tão estranhos, como sororidade, afeto, identidade, revolução. Afinal, sem o feminismo e sem o antirracismo, não teremos transformações profundas na sociedade em que vivemos. Mas, sobretudo, essas mulheres aprenderam sobre os seus direitos e como esses direitos podem ser partilhados, fortalecendo a luta de outras mulheres”.

Após a exibição de um vídeo de uma apresentação musical em que Edicléa Santos canta a música “Separadas pelo rio”, de Rosalva Silva Gomes, a vereadora Dani Portela concedeu oficialmente a Medalha Olegária Mariano à ativista.

Hoje reverenciada por sua atuação em prol dos direitos da mulher e do direito à cidade, Edicléa Santos relatou na tribuna a sua história de encontro com o feminismo negro nos anos 1980. “Aprendi o que era racismo, violência, e o que era direito para nós, mulheres negras. Isso a gente faz hoje com várias mulheres do Grupo Espaço Mulher. Ele não é só um grupo periférico. É um grupo que dá acolhida às mulheres, que escutas as mulheres. Acolhe não só as mulheres, mas as crianças dessas mulheres. Muitas não sabem nem onde é a cidade, mas sabem onde é o Grupo Espaço Mulher”.

Emocionada, Edicléa Santos finalizou o seu discurso cantando o “Canto das Três Raças”, popularizado por Clara Nunes e composto por Paulo Cesar Pinheiro e Mauro Duarte. Antes, lembrou que a sua trajetória se deve ao que aprendeu coletivamente em grupos e movimentos sociais. “Eu não seria ninguém se não tivesse várias pessoas que me ensinassem o caminho. Eu sou porque somos. E foi porque nesses grupos me ensinaram quem eu sou, que chegamos onde chegamos”.

Ao finalizar a solenidade, Ivan Moraes fez uma menção à luta de Edicléa Santos pela permanência das pessoas da comunidade do Passarinho em suas casas. Em meados dos anos 2010, mais de 25 mil famílias da comunidade foram ameaçadas de despejo. “Talvez tivesse sido a maior desapropriação da história do Brasil até aquele ano. E foram essas mulheres que se juntaram e bateram em tudo que era porta. Fizeram com que o camarada que deu a ordem de despejo caminhar pela comunidade para olhar na cara das pessoas, olhar as casas das pessoas, para reconhecer que aquilo ali é um bairro”.

Em 12.05.2022