Comissão Especial debate restauração do Mercado de São José
De acordo com a parlamentar, o colegiado visa a discutir a situação de todos os mercados públicos da capital. Com a perspectiva de restauração do Mercado de São José, o seu caso se tornou mais urgente. Após ser adiado uma vez, o lançamento do edital da obra, no valor de R$ 21,4 milhões, pode acontecer já no próximo sábado (8). “Esta Comissão é muito mais ampla, mas começamos pelo Mercado de São José por conta desse restauro pelo qual ele vai passar”.
Um dos principais pontos de conflito do atual projeto da reforma é o alargamento da rua central do mercado. Com a mudança, alguns boxes seriam substituídos por quiosques. Mas a opção, para os permissionários, inviabilizaria negócios que precisam estocar artesanatos de maiores dimensões.
Outra modificação criticada pelos permissionários é a transferência do pátio de alimentação, situado à frente do mercado, para um mezanino a ser criado na área do prédio já alterada após um incêndio ocorrido em 1989. Para o poder público, a alteração permitiria uma melhor visibilidade do patrimônio histórico: inaugurado em 1875 e com uma arquitetura típica da época, o Mercado de São José é o mais antigo edifício de ferro pré-fabricado do País. Segundo os permissionários, no entanto, a transferência impactaria negativamente a economia local e a cultura que se formou em torno da praça de alimentação.
Vereadores pedem negociação – Vice-líder do governo na Câmara e membro da Comissão Especial, o vereador Rinaldo Junior (PSB) afirmou que a Prefeitura está interessada em achar uma solução pactuada com os permissionários. “A nossa luta é para que seja feito o restauro com segurança e escutando todos. Aqui só tem um lado. E a nossa função como parlamentar é ouvir e debater”, considerou. “Todos aqui queremos um melhor mercado para todos, assim como o prefeito João Campos (PSB)”.
O vereador Chico Kiko (PP) se colocou à disposição para garantir que a restauração seja feita com transparência. “Estou muito feliz por ser aceito para dar a minha contribuição para que as reformas do mercado, além de terem obras de qualidade, sejam fiscalizados por nós, vereadores, que fomos eleitos pelo povo”.
Já o vereador Alcides Cardoso (PSDB) lembrou do papel da Comissão Especial no adiamento do edital para que o debate sobre a obra fosse estendido. “Uma coisa que lutamos aqui e conseguimos foi adiar a licitação da reforma e estarmos aqui hoje com vocês. Temos que ouvir e, daqui, levar ideias para chegar a um denominador comum”.
Segundo Ivan Moraes (PSOL), vice-presidente da Comissão Especial, é preciso que o poder público seja transparente em relação ao projeto e que os permissionários tenham a oportunidade de fazer sugestões objetivas para o restauro. “Hoje, um dos nossos principais objetivos é que as pessoas saibam qual é a intenção do projeto original que vem sendo proposto pela Prefeitura. E também entendo que os permissionários e as permissionárias também têm sugestões. A crítica precisa vir de mãos dadas com as propostas”.
Líder da oposição na Câmara, o vereador Renato Antunes (PSC) defendeu um novo adiamento da licitação da obra no Mercado. Além disso, ele se posicionou por uma intervenção focada na preservação das estruturas atuais do equipamento. “Esta não é uma pauta da oposição ou do governo, mas do Recife. Os 39 vereadores desta Casa estão imbuídos nessa missão”.
O vereador Marco Aurélio Filho (PRTB) fez questionamentos sobre as diretrizes aprovadas pelo Iphan para o projeto e enalteceu a cultura mantida pelos permissionários. “Os mercados públicos do Recife são patrimônios afetivos da nossa gente. Muito mais que uma estrutura, é preciso cuidar das pessoas que fazem esse mercado. São esses permissionários que fazem acontecer um dos principais cartões-postais da nossa cidade”.
Por sua vez, Osmar Ricardo (PT) tratou de estudos feitos pelo seu mandato sobre as necessidades dos mercados recifenses. “O nosso mandato vê os mercados como muito importantes para a cidade. Já entregamos à presidente da Comissão e ao presidente da CSURB o relatório do mercado de Santo Amaro. Fizemos o relatório do mercado da Madalena, escutando os locatórios e pessoas que lá passam, e o da Encruzilhada”.
A vereadora Liana Cirne (PT) sugeriu a criação de uma mesa de negociação com o Iphan sobre as diretrizes do projeto, com a participação do grupo de permissionários, professores da Universidade Federal de Pernambuco, a Comissão Especial dos vereadores e a Prefeitura. “Conhecemos a qualidade do corpo técnico do Iphan, mas o princípio da participação popular está inscrito, inclusive, nas suas bibliografias internas”.
Permissionários expressam críticas – A representante da Comissão dos Permissionários do Mercado de São José, Nádia Azevedo, levantou na reunião a problemática da redução do tamanho de boxes. “Queremos o restauro do mercado. Somos contra alguns pontos que descaracterizam o mercado, transformando a imagem dele de mercado público para shopping. O projeto de restauro do governo João Campos implicará em mudanças radicais no seu perfil mercadológico. Uma delas é a remoção de 68 boxes que se encontram implantados no corredor central. Terão sua área drasticamente reduzida para dimensões de um quiosque, o que inviabilizará suas atividades comerciais”.
Outro integrante da Comissão dos Permissionários, Kléber Duarte, se manifestou contra a transferência da área de alimentação para um mezanino. De acordo com ele, um estudo arquitetônico realizado em 1987 já havia constatado que a ideia geraria desconforto pelo calor gerado na parte de baixo do mercado. “Essa área já tem mais de 70 anos no local. O próprio Iphan se contradiz: no novo projeto, alega que o pátio de alimentação não faz parte do projeto anterior. Mas como não faz parte do projeto anterior, se, em 1973, quando houve o tombamento, ele não foi retirado? A praça de alimentação é a vida do mercado de São José”.
Poder público explica critérios e abre diálogo – A Gerente Geral de Projetos de Infraestrutura Dâmaris Tavares representou a URB na reunião. De acordo com ela, o projeto apresentado segue as orientações sobre patrimônio histórico definidas pelo Iphan. “A gente fez o projeto seguindo as diretrizes do Iphan, apresentadas no momento da contratação desse projeto. Buscamos fazer de uma forma que valorizasse o patrimônio, porque a gente sabe da importância dele. Os pleitos serão levados à presidência da URB para que haja um retorno”.
A arquiteta e historiadora Márcia Hazin se posicionou pelo Iphan na discussão. De acordo com ela, as modificações atendem a critérios de visibilidade do patrimônio histórico, acessibilidade e segurança. “Pensou-se em liberar esse espaço para que o mercado se mostrasse inteiro em sua arquitetura. Em várias reuniões com a URB e com os técnicos do Iphan, chegamos à conclusão de que uma maneira de não sacrificar nenhum permissionário seria a alternativa do mezanino. Ela valorizaria o patrimônio nacional, levando-se em consideração a vivência dos permissionários. Escolhemos uma área do mercado que já havia sido alterada pelo incêndio de 1989”.
Ainda de acordo com Hazin, os quiosques instalados com a liberação da rua central do mercado seriam utilizados apenas por comércios de pequeno estoque. Outros negócios, que exigem maior capacidade, continuariam a se utilizar dos boxes de maior capacidade. Além disso, uma vez que o processo do projeto de restauro já se encontra em fase final, eventuais alterações só poderiam ser realizadas após consulta à Procuradoria do Iphan.
A CSURB foi representada por seu diretor-presidente, Gabriel Leitão. Ele indicou que o Executivo está aberto a dialogar com os permissionários sobre as alterações. O nosso prefeito foi muito claro em relação às premissas de manter e priorizar o diálogo em toda a execução e de não abrir mão da preservação do patrimônio histórico. O mercado sem as pessoas que fazem o seu comércio nada mais é que uma caixa oca, vazia. O diálogo já existe e foi feita uma eleição para a comissão que está representada na mesa. Além dela, os permissionários fizeram uma plenária e acatamos os representantes por ela eleita. Estamos de portas abertas para encontrar os melhores caminhos para minimizar o impacto da obra”.
Além dos integrantes da mesa do evento, participantes da reunião que se encontravam presentes na Câmara tiveram a oportunidade de expressar suas opiniões sobre a reforma do mercado de São José. Ao final do debate, o vice-líder do governo Rinaldo Júnior informou aos participantes que haverá nesta quinta-feira (5) uma reunião com integrantes do Iphan, da URB, da CSURB, da Secretaria do Governo e da representação do mercado. Os assuntos abordados serão a viabilidade do projeto e a possibilidade de suspensão do edital.
Em 04.05.2022