Dani Portela promove reunião pública para debater o 13 de maio

Nesta sexta-feira (13), a vereadora Dani Portela (PSOL), promoveu uma reunião pública no Parque 13 de Maio, intitulada: “13 de maio é Dia de Negro?” Com a presença de alunos e professores de escolas públicas do entorno do parque, o evento contou com a participação de especialistas sobre o assunto: Maria Emília Vasconcelos, professora do departamento de pós-graduação em história da UFRPE; Graça Elenice, Rede de Mulheres Negras de Pernambuco e do GEPERGES; Rubia Lopes, Gerente de Equipamentos Culturais; Ivana Motta, Assessora Técnica de Cultura da cidade do Recife e Anastácia Rodrigues, chefe do setor de música. No evento, foi debatido se o dia 13 de maio pode e dever ser considerado dia de negro. E porquê?

A vereadora é presidente da Comissão de Igualdade Racial e Enfrentamento ao Racismo, da Câmara do Recife,  e possui formação em história. Ela demonstrou preocupação de como a história dos negros está sendo "reescrita". "Como historiadora sei da importância de conhecermos a história do nosso povo e aqui afirmo: o racismo nos tirou essa possibilidade de conhecermos a fundo a nossa história. Decidimos propor um debate público que possibilite discutir inclusive a importância de termos mais monumentos e espaços públicos que enalteçam a história negra, e que se conserve melhor os que já existem", afirmou.

Portela também lembrou sobre os requerimentos solicitando a retirada de imagens de figuras públicas, ligadas ao movimento escravocrata, e como se tornou alvo de ameaças e fake news. "Desde o começo do ano protocolamos requerimentos para que a gestão municipal retire de espaços públicos nomes de escravagistas, ditadores e figuras que subjugaram a nós, pessoas negras. Recentemente, propusemos a retirada do busto de Castelo Branco que fica na Av. Caxangá e tivemos esse pedido negado. A partir desse requerimento fui acusada de estar querendo fazer revisionismo histórico, e sofri ataques de fake news.", disse Portela.

A professora Maria Emília trouxe para a mesa discussões sobre o processo de abolição, histórias e estratégias utilizadas para o fim da escravidão. Incluindo a história de dois personagens que viveram esse processo e como devemos questionar a história, pois ela pode ter várias vertentes Para Rubia Lopes, a questão dos poucos equipamentos culturais e representativos negros que temos, atualmente em nossa cidade, serve como um tipo de "apagamento histórico".

Quando o tema girou em torno de convívio social e como a sociedade enxerga o negro, Anastácia Rodrigues trouxe para o debate sua experiência como musicista negra na Orquestra Sinfônica, como isso é extremamente representativo e as dificuldades de realizar esse sonho como uma mulher negra. Ivana Motta, observou a questão de como são narradas as histórias dos negros, até mesmo de sua chegada ao Brasil, além de reforçar a necessidade de rever como os negros e os escravista são representados pela arte dentro de nossa sociedade e como projetar as mudanças necessárias, para essa estrutura que precisa de uma revisão cultural e simbólica.

Após tantas declarações e compartilhamento de experiências, fica claro, que embora a criação da Lei Áurea, com base nos livros de história, tenha "libertado" diversos escravizados, não se pode ignorar a ausência de políticas de proteção à população negra da época, para que eles sobrevivessem com dignidade; e como problema, que persiste em nossa sociedade atual, deu vazão ao racismo e outras violências mais presentes na vida das pessoas negras.

Segundo Portela, "Estamos falando de um processo histórico marcado pelo fim da escravização e chegada do sistema capitalista no nosso país que não promoveu o pleno acesso a direitos e reparação para o povo negro. Ou seja, como alguns estudiosos intitulam, vivemos uma falsa abolição. Além disso, nos deparamos com uma História oficial que silencia sobre os diversos processos de resistência dessa população".

Os movimentos sociais presentes, também falaram sobre suas lutas e as conquistas, através das leis, aprovadas nos últimos anos. "Hoje é dia de luta, é um dia nacional de denúncia contra o racismo, e Dani como em toda sua mandata, com essa iniciativa, é fazer uma aula de cidadania e problematizar, questionar, quais os motivos de uma abolição", disse Graça Elenice, da Rede de Mulheres Negras. Ao que completou, “Para nós, que fazemos parte dos movimentos sociais, falando pela Rede de Mulheres Negras, esse dia é um dia pra gente questionar qual o lugar de negro na sociedade? Qual o lugar da pessoa negra nessa sociedade? Então a gente vai ver quais são os lugares que percebemos o negro, como a gente o observa, é aí a gente vai ver, não só dados estatísticos, mas que na nossa sociedade, tem uma disputa de projeto.”

Elenice ainda relembrou, que nas primeiras leis da educação, era proibido aos negros ir para escola, " e aí a abolição, o 13 de maio, veio para retardar a liberdade do negro, porque quando ela vem, o negro é "abolido", mas ele não recebe nenhuma indenização. Então foi necessário a gente lutar, enquanto movimento, para constituir outros mecanismos de leis, para que visse o marco legal para a sociedade negra. "

Durante o evento também foi lembrada a Lei 10.639, de 2003, que coloca no currículo de ensino das escolas, trabalharem o ensino africano, a história, a cultura. Outro tema abordado foi a lei das cotas raciais. Ainda de acordo com Elenice, "saber que essas leis não estão fixas, são leis que de acordo com a sociedade, elas podem ser alteradas, então é preciso continuar percebendo que isso é uma conquista, então se é uma conquista a gente precisa continuar lutando para não perder”.

 

Texto da Assessoria de Imprensa da vereadora Dani Portela

Em 13.05.2023