Audiência pública debate rumos da requalificação da rua da Aurora

Paralisada, a obra de requalificação de um dos principais cartões-postais do Recife – a rua da Aurora – foi tema de uma audiência pública realizada pela Câmara Municipal, por iniciativa do vereador Ivan Moraes (PSOL). Na ocasião, membros da Prefeitura, da sociedade civil e da academia se reuniram para discutir soluções para o local e tratar dos próximos passos da reforma.

Segundo Moraes, a requalificação tem sido marcada por problemas de falta de participação e de transparência. O parlamentar afirmou, ainda, que a Prefeitura já deixou vencer dois prazos dados anteriormente para a continuidade do projeto: um em dezembro de 2021 e o outro em março deste ano. “A gente espera, neste momento de hoje, ter mais informações sobre o que está planejado pela Prefeitura do Recife para aquele local. A gente também espera que, a partir das contribuições da sociedade civil, a gente possa, além de ter mais transparência sobre as intenções da gestão municipal, dar início a um processo de escuta para que a intervenção seja o mais debatida possível”.

Representante da Autarquia de Urbanização do Recife (URB) no evento, a gerente-geral de projetos urbanos do órgão, Natália Tenório, informou as novas datas do andamento da requalificação. De acordo com ela, o projeto conceitual da obra deve ficar pronto em agosto, quando a empresa contratada deve devolvê-lo com os ajustes solicitados pela URB. Já o projeto executivo deve ficar pronto em outubro. “Esse contrato foi assinado no dia 7 de janeiro e eles já fizeram um trabalho em cima do conceitual que passamos para eles. Eles enviaram um anteprojeto e fizemos algumas observações. Estão com um período de ajuste, com entrega até agosto”.

Na ocasião, Tenório também fez explicações sobre o plano da Prefeitura para a rua da Aurora. O conceito do projeto envolve abrir novas visadas da rua para o rio Capibaribe, a partir de sete varandas instaladas nos pontos de encontro das vias que dão acesso à rua da Aurora. Além disso, a requalificação da via prevê alterações no polo gastronômico da rua Mamede Simões e a presença, na Aurora, de equipamentos como área para comércio, obelisco, áreas para piquenique, parque infantil, pista de cooper, pista de skate, parcão, anfiteatro, dentre outros.

A gestora do Gabinete do Centro do Recife (Recentro), Rayane Aguiar, apresentou o órgão do Executivo municipal, criado em dezembro do ano passado, como uma parte interessada na requalificação da rua da Aurora. “Estou muito feliz por estar aqui, mais uma vez, acompanhando uma discussão que é tão importante para o centro. Embora não esteja dentro do perímetro da lei de incentivos fiscais do Recentro, a gente tem trabalhado com o conceito de centro expandido, então muito nos interessa acompanhar”.

A representante da associação Amigos da Aurora, Sandra Ribeiro, tratou de diversos problemas que afetam a localidade. Além de se mostrar preocupada com a demora na entrega da requalificação da via e com o aumento do número de pessoas em situação de rua na região, ela disse haver um crescimento da violência na Aurora e cobrou mais atenção das autoridades de segurança. “Há roubos, assaltos. Tenho câmeras de segurança na casa e registrei vários arrombamentos, roubos de aparelhos de ar-condicionado. Encaminhei para a polícia. Ninguém fez nada”.

Já a representante do movimento Caranguejo da Aurora, Larissa Brainer, fez um relato que, segundo ela, demonstra a falta de transparência e participação no processo de reforma conduzido pela Prefeitura: o sumiço temporário da estátua de caranguejo do local, um monumento ao movimento musical Mangue Beat. De acordo com ela, houve vários desencontros nas informações passadas pela Prefeitura sobre o destino da estátua – da retirada para manutenção ao sumiço dela no projeto, até o caranguejo ser reinstalado novamente, sem aviso.

Outros dois problemas relatados por Brainer foram a presença de fiação aérea no local e a velocidade permitida para automóveis na via. “Existe um planejamento para revisar a fiação elétrica e os postes daquele local? Se estamos falando de um lugar que é para ser um mirante, as fiações aéreas comprometem bastante esse paisagismo”, analisou. “O movimento naquela zona aumentou bastante, já que está requalificado, tem bancos, ficou um espaço muito mais agradável de estar. E, na frente, tem o Ginásio Pernambucano, e os adolescentes adoram aquela praça. O risco de atropelamentos é muito maior agora. Estamos falando de um passeio público que atrai famílias, crianças e bebês, patinetes e bicicletas. Por que ainda temos uma via de velocidade tão alta e que não privilegia a parte humana?”

O professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Lula Marcondes, e um grupo de cinco alunas da instituição apresentaram três projetos para o polo pesqueiro situado próximo à ponte do Limoeiro, ainda na região da Aurora. Os projetos contemplam uma maior integração com o polo para quem visita a rua e oferece mais conforto e oportunidades econômicas para os pescadores.

“Em busca por temas do semestre, a gente se deparou com um estudo que a gente recebeu da Prefeitura. Percebemos que o estudo tinha pouco diálogo com a comunidade pesqueira”, contou o professor. “Então, fomos atrás, investigamos com a Pastoral da Pesca e tivemos algumas reuniões com os pescadores e com o pessoal da Associação de Pesca. A partir desse contato, trouxemos o tema para a disciplina do semestre. Tivemos um processo de escuta, de design e de devolutiva”.

O presidente da Associação de Pescadores da Ponte do Limoeiro, Severino Batista, também marcou presença na mesa de debates. Ele destacou a necessidade de instalação de um píer, de quiosques de armazenamento, e de locais de beneficiamento dos pescados. “O principal são os quiosques, para guardar material. Hoje, é tudo embaixo da ponte”.

Após as intervenções do público presente, o vereador Ivan Moraes propôs alguns encaminhamentos para a audiência. Dentre eles, estava a realização de uma nova rodada de debates com o retorno do projeto básico, em agosto, para tratar da inclusão de algumas das sugestões feitas no evento.

O parlamentar frisou demandas como os equipamentos solicitados pelos pescadores, o embutimento da fiação elétrica, a implantação de sinalização de trânsito mais eficiente e a redução, para 30 km/h, na velocidade permitida para os automóveis da via. De acordo com a representante da URB, Natália Tenório, questões de iluminação e de trânsito já estão sendo tratadas com os órgãos competentes.

Em 30.06.2022