Câmara do Recife homenageia 60 anos da regulamentação da Psicologia no Brasil

Os cuidados na saúde mental da população, a luta antimanicomial e o engajamento em ações de desencarceramento foram temas destacados durante a homenagem aos 60 anos da regulamentação da Psicologia no Brasil. O evento, de autoria conjunta da vereadora Dani Portela (PSOL) e do vereador Ivan Moraes (PSOL), foi realizado nesta sexta-feira (26), na Câmara Municipal do Recife. Acompanharam a solenidade no plenário da Casa de José Mariano psicólogas, psicólogos e representantes de entidades da categoria.

Além dos vereadores proponentes, também compuseram a Mesa: a conselheira-presidente do Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco (CRP02-PE), Alda Roberta Campos; representando a Federação Nacional dos Psicólogos (Fenapsi), Fernanda Lou Sans; a conselheira-presidente do Conselho Federal de Psicologia (CPF), Ana Sandra Fernandes; a ex-presidente do CRP02, Maria Conceição Costa; além das professoras Graça Victor e Ana Lúcia Francisco. 

Dani Portela destacou o aniversário de 60 anos da regulamentação da profissão de psicologia, que é celebrado no dia 27 de agosto. "Segundo dados do Conselho Federal de Psicologia, são mais de 427 mil profissionais que atuam em várias políticas públicas no Brasil. Só aqui em Pernambuco são mais de 16 mil que atuam em todos os contextos em que se trabalha a saúde mental. Parece que nunca foi tão importante falar sobre saúde, mas saúde mental tem ocupado um lugar central nos nossos debates", pontuou. 

De acordo com a parlamentar, a pandemia da covid-19 mostrou que 53% da população foi acometida por algum tipo de problema. "Sabemos que isso atingiu todas as nossas crianças, jovens, adolescentes e adultos de forma indistinta de idade, gênero, classe e cor. Mas para alguns setores isso é ainda pior. Sintomas como depressão e estresse atingiram majoritariamente as mulheres", disse, ao destacar que vidas foram perdidas para a covid-19  e também para os transtornos de saúde mental. 

Por sua vez, Ivan Moraes disse que vem acompanhando uma crescente necessidade de prover saúde mental para a população e, ao mesmo tempo, percebendo as dificuldades enfrentadas pelos profissionais. "Tenho me colocado cada vez mais ao lado da vereadora Dani e das demais vereadoras e vereadores desta Casa para que a população tenha direito ao atendimento que merece sobre saúde mental, e para que os profissionais dessa área também tenham o respeito que merecem", afirmou.

"Quero destacar a importância da luta antimanicomial e de continuar nela, compreendendo que demos passos importantíssimos: Pernambuco foi pioneiro nisso e Recife também teve um pioneirismo incrível na luta antimanicomial para o fim dos estabelecimentos de privação de liberdade para pessoas com sofrimento mental", lembrou. O vereador enfatizou, ainda, a ausência de profissionais nas escolas do Recife, e comentou sobre a audiência pública realizada nesta semana para discutir o tema. 

Após a exibição de um vídeo institucional, a conselheira-presidente do Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco (CRP02-PE), Alda Roberta Campos, relembrou os passos que a psicologia deu para chegar até onde chegou. "A luta pela reforma psiquiátrica, o engajamento em ações de desencarceramento, ações antiracistas, anticapacitistas, feministas, em defesa dos direitos humanos. Tivemos que enfrentar essa pandemia, desmontes de políticas públicas, descasos, ajuntamento da nossa profissão, exploração, muitas situações de assédio moral, denúncias relacionadas ao descaso e desrespeito com o profissional de psicologia", detalhou. 

Compromisso e seriedade da profissão - Alda Roberta Campos reforçou o compromisso dos profissionais nas 13 áreas de atuação da psicologia que compõem a ciência da profissão. "Com compromisso, com a ética, a laicidade e respeito à diversidade. Saúde mental a gente não faz no consultório, é em qualquer lugar que a gente esteja. Precisamos entender que saúde é muito maior e que saúde mental ou psicoterapia é o cuidado integral. Quem está sem dinheiro para pagar a conta de luz, quem está sem moradia, vai ter impacto na saúde mental. Não dá para separar esse contexto", observou. 

Fernanda Lou Sans Magano, representante da Federação Nacional dos Psicólogos (FENAPSI), enalteceu que era um espaço valoroso, para a categoria profissional, estar na Casa de José Mariano. “Que a gente faça esses momentos que demarcam a história da profissão e para que também, didaticamente, ensinem a cada um de nós, psicólogas e psicólogos, o nosso valor. Hoje, estamos nos principais conselhos de controle social sempre galgando espaços nas conferências e construindo essa inserção da Psicologia nas políticas públicas. Temos que fazer esse momento de comemoração, mas, ao mesmo tempo, de resistência e luta”.

Ana Sandra Nóbrega, conselheira-presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), destacou a regulamentação da profissão e enalteceu a transformação da psicologia ao longo  do tempo. “Estamos prestigiando o legado das mais de 427 mil psicólogas, psicólogos e psicóloges, inscritos no sistema de Conselhos, além de tantas outras pessoas que nestes 60 anos exerceram suas atividades. Gosto muito de dizer que a Psicologia, que nós comemoramos hoje, não é a mesma regulamentada em 1962", ressaltou.

"Essa nossa Psicologia passou de uma perspectiva bastante elitista, no seu início de regulamentação, positivista e punitivista, para uma profissão e ciência comprometidas em acolher o sofrimento e o adoecimento mental. Reconhecendo que um conjunto de fenômenos de adoecimento e sofrimento têm origem na situação e condição de existência das camadas mais vulneráveis da sociedade brasileira”, afirmou a conselheira.

Ao finalizar a solenidade, a vereadora Dani Portela disse que são 60 anos de dores, alegrias e histórias para contar. “E acho que o que a gente traz hoje dessa comemoração, que perpassou em várias falas, é o desafio de fazer psicologia, ou qualquer área do saber, em tempos tão duros. Então, parabéns a esses 60 anos de trajetória, história e luta. Viva a Psicologia”.

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Em 26.08.2022