Cida Pedrosa entrega Medalha de Mérito Olegária Mariano à arquiteta Amélia Reynaldo

Por iniciativa da vereadora Cida Pedrosa (PCdoB), a Câmara Municipal do Recife entregou a Medalha de Mérito Olegária Mariano à arquiteta urbanista Amélia Maria de Oliveira Reynaldo, em solenidade realizada na noite desta quinta-feira (25). “Amélia, para muitos Amelinha, é uma recifense que ama o Recife desmedidamente. E talvez aí esteja uma de suas maiores qualidades. Ela vem dedicando, desde os anos 70, quando ingressou na Prefeitura Municipal, ainda estudante de arquitetura, toda a sua labuta em prol de uma cidade melhor, mais justa. Ela é humana, demasiado humana, em tudo o que faz”, disse a vereadora.

A reunião solene foi realizada sob a presidência do vereador Zé Neto (PROS), que compôs a mesa com a homenageada; a vereadora autora do Decreto Legislativo; o padre Delmar Araújo Cardoso, pró-reitor Comunitário e de Extensão, representando o reitor padre Pedro Rubens Ferreira, da Universidade Católica de Pernambuco; a gerente geral de Preservação do Patrimônio Cultural da Fundarpe, Célia Campos, representando o presidente da Fundarpe, Severino Pessoa; o arquiteto urbanista, Romero Pereira; e o senhor José Arlindo. Após o Hino Nacional, Cida Pedrosa ocupou a tribuna e fez suas colocações.

Cida Pedrosa disse que a arquiteta Amélia Reynaldo iniciou sua carreira em 1975, já graduada, coordenando o grupo de Censura Estética da Prefeitura. Depois fez parte do Escritório Técnico de Planejamento Integrado da Secretaria de Planejamento, saindo para integrar o grupo que cuidaria de desenvolver o Plano de Preservação dos Sítios Históricos, a partir do trabalho iniciado pela Fidem para nove cidades da Região Metropolitana. “Juntamente com Ana Lúcia Barros, Vital Pessoa de Melo, ambos já em outra dimensão, e mais Teresa Uchoa, a quem eu faço uma reverência especial em nome do grupo, essa pequena equipe teceu os primeiros estudos e documentos para a preservação dos 31 sítios históricos da cidade, Hoje são 33 Zonas Especiais de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural (ZEPH)  e 262 Imóveis Especiais de Preservação (IEP) , resguardando assim uma parte da nossa história”.

A vereadora mostrou o que seria “a certidão de nascimento do livro preto, como é conhecido, o primeiro Plano de Preservação dos Sítios Históricos do Recife, gestado nos aposentos da URB, nos anos de 1979 e 1980, e nascido em dezembro de 1981”. Acrescentou que a partir de 1985, foi constituído, na URB, o Departamento de Preservação dos Sítios Históricos, o DPSH. “Era uma espécie de casa-abrigo para as pessoas que estudavam, trabalhavam ou pesquisavam sobre as áreas históricas: os conjuntos urbanos, os monumentos isolados e até as ruínas. Algumas passaram, outras ficaram. À medida em que os desafios aumentavam, o grupo ia crescendo, uma espécie de família, não a de sangue, mas a escolhida por afinidade. E você, Amélia, saiu da Rua Oliveira Lima, onde se localiza a sede da URB para a Rua da União, em 1986, onde foi montado o Escritório de Revitalização do Centro”.  

De acordo com a vereadora, tão logo colhiam-se os primeiros frutos deste escritório, que cuidava das calçadas, da iluminação pública, da limpeza das ruas, das praças, do mangue, a arquiteta Amélia Reynaldo foi chamada para um novo desafio. “Arregaçou as mangas, saiu da Boa Vista, atravessou a ponte e foi montar o primeiro Escritório Técnico do Bairro do Recife. Com ele, o DPSH inaugurava uma forma nova de planejamento e gestão de um sítio histórico, com você à frente. Planejar dentro do próprio sítio, descobrir um território velado, o do porto e das profissionais do sexo. Deu início, com a ajuda de um pequeno grupo, ao Plano de Reabilitação do Bairro do Recife. O social estava no cerne deste plano. Não havia um livre pensar na recuperação e restauração do casario que não fosse atrelado às necessidades daquela população”.

Foram, deste plano, segundo Cida Pedrosa, que saíram os projetos do Habitacional do Pilar e de outras habitações coletivas, do Centro de Capacitação na Chanteclair, de equipamentos comunitários: escola, creche, unidade de saúde, restaurante popular e mais alguns. “Todos os projetos feitos a partir de muitas escutas à população residente e trabalhadora que lá estava. No documento Memória em Movimento que compõe, junto com os projetos, o acervo do Bairro do Recife, estão todos os registros. Os caminhos seguiram paralelos, novos rumos foram dados ao Escritório do Centro e do Bairro. Você atravessou o Atlântico e foi pra Barcelona, mas nem assim o Recife ficou pra trás. Santo Antônio e São José, a ilha de Antônio Vaz, lhe acompanharam nesses anos de pesquisa e de muito estudo.

Cida Pedrosa ressaltou que Amélia Reynaldo “debruçou-se desde a formação da cidade colonial, passando pelos projetos de remodelação dos anos 30, pelas intervenções modernistas, chegando, finalmente, de onde partiu: ao protagonismo do Recife nas leis de preservação, na lida com o patrimônio. Em seu livro, resultado deste trabalho, intitulado As catedrais continuam brancas, você ressalta a importância das igrejas que, como baluartes, resistem à superposição de camadas das transformações urbanas por que passaram a cidade, sempre em nome da modernização. Em nome de muitas pessoas que contribuíram para resguardar a história dessa cidade, que, como as igrejas e as catedrais resistem ao tempo e aos desafios, receba, Amélia, a minha singela homenagem como se porta-voz fosse do nosso amado Recife”.

Após o discurso, foi feita a recitação de poemas de João Cabral de Melo Neto e de Manuel Bandeira, por Susana Moraes; a exibição de um vídeo com depoimentos sobre Amélia Reynaldo; e uma apresentação musical do grupo Brasil Sonoro. Na sequência, a vereadora entregou o diploma e a Medalha de Mérito Olegária Mariano à arquiteta Amélia Reynaldo. Ela também recebeu um ramalhete de flores antes de ocupar a tribuna. “Parabenizo a ideia desta casa pela instituição de uma Medalha como nome de Olegária Mariano e cumprimento ao povo pela comenda que hoje recebo”. Ela disse que nasceu no Recife por acaso, pois a sua mãe era do Sudeste e veio morar na capital pernambucana. “Também vivi no Recife por acaso”, pois havia, segundo disse, a possibilidade da volta da família a Minas Gerais. Mas, terminou ficando do Recife.

“O fato de estar aqui no dia de hoje, me faz refletir sobre a cidade que fiquei”. Foi um discurso poético, em que ela se dirigiu diretamente a Olegária Mariano, como estivesse frente a frente com a esposa de José Mariano, patrono da Câmara Municipal do Recife, que dá nome à Medalha que recebeu. Sempre a citando no início das frases, a arquiteta fez referências a um Recife bonito e romântico, o Recife do Carnaval, dos passistas, dos mascastes, do jeito afetuoso de o Recife acolher o povo que chega.

Mas também falou das desigualdades, dos problemas do centro do Recife, e das belezas das pontes, dos rios que cortam o centro, das igrejas e monumentos, dos passeios por onde fazia na infância. Explicou sua paixão pela arquitetura e da escolha dela como profissão, da sua luta junto com o grupo que formou para trabalhar e ajudar na preservação do patrimônio histórico e artístico do Recife. Fez referência aos desafios enfrentados. “Foi um modo de fazer com, que a cidade do passado não se perdesse no presente”. Segundo ela, foi um exercício de construção coletiva. Também falou da sua experiência como professora de arquitetura e do trabalho nas empresas públicas  “A Medalha que hoje recebo não cabe num só peito, nem a carrego sozinha. Não chego aqui sozinha, nem saio daqui sozinha”.

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Em 25.08.2022.