Criado há 30 anos, Bloco Lírico O Bonde ganha homenagem na Câmara

Os tons de vermelho, branco e dourado do Bloco Carnavalesco Lírico O Bonde coloriram o plenário da Câmara Municipal do Recife na tarde desta quinta-feira (1º). Fantasiados e acompanhados de seus flabelos, os foliões participaram de uma homenagem na Casa para celebrar uma data especial: os 30 anos da agremiação. Realizada por iniciativa da vereadora Cida Pedrosa (PCdoB), a reunião solene foi presidida pela vereadora Dani Portela (PSOL).

Em seu discurso, Cida Pedrosa retratou a história e as raízes religiosas do bloco lírico. “Já se vão 30 anos do dia em que O Bonde nasceu: 27 de setembro de 1992. Dia em louvor aos Santos Cosme e Damião. Dia em que nasce e é consagrado em sua certidão com o nome de O Bonde Bloco Carnavalesco Lírico”, lembrou. “Nasce e Cresce Bordado nas cores Vermelho, Branco e Dourado, em honra ao Orixá Xangô, Padroeiro e guia. E chega grande espalhando sabedorias sobre a terra e sob os céus do Recife”.

A parlamentar fez, ainda, uma reflexão sobre o nome da agremiação e o seu impacto cultural. “O Bonde, o Bloco Carnavalesco é um coletivo de festas. Uma trupe que transporta almas-patrimônios pelas ruas da cidade. Assim como o Bonde-bonde, o coletivo que sob trilhos leva e traz pessoas, o Bonde-Bloco desliza sereno e encantador pelas vielas do Brasil”.

Após o pronunciamento, Cida Pedrosa entregou um certificado de homenagem ao presidente do bloco lírico O Bonde, Cid Cavalcanti. Os clarins tocaram no momento da entrega e os componentes da agremiação gritaram palavras de ordem. Em seguida, a pesquisadora da Cultura Popular e de Tradições, também representante da Secretaria de Cultura do Recife na solenidade, Carmem Lelis, foi convidada para ir à tribuna e falar sobre a agremiação carnavalesca. “A cultura popular é lugar de construção da ternura. Ela busca e ressoa nos ouvidos humanos esse processo de busca do reconhecimento e do afeto. É nisso que trabalho na cultura, como alguém que se vê movido e acessado por esta relação de cultura e afeto, cultura e ternura”.

Para falar do bloco O Bonde Carmem Lelis retroagiu ao Recife do século 19, no bairro de São José, a comunidade do centro que viu o Carnaval da cidade nascer. Para o Recife o bairro, segundo ela, é “um São José sagrado com torres, igrejas, mas também onde o poder se estabelece”. A pesquisadora falou da diversidade do bairro, da religiosidade, do comércio, mas disse que lá também foi lugar de inspiração para os blocos líricos do Recife. “O Bonde é fruto do bairro de São José, como manifestação artística, das suas famílias, dos pequenos comerciantes. E esse bloco é muito contrário daqueles outros blocos que vinham do Recife Antigo”, de frevo rasgado.

Carmem Lélis explicou como surgiu essa modalidade de frevo, que anima a agremiação. “O frevo de bloco trouxe, diferentemente do frevo de rua, uma orquestra de pau e corda, com violino, violão, cavaquinho, mas a sua base é pau e corda. A sua música, desde o começo, não era o frevo rasgado, mas eram canções de amor, até fados. Eram como serenatas. A manifestação trazia a musicalidade e, em lugar de passo do frevo, uma evolução suave, das moças e mulheres”. Nos dias de carnaval, diante do frevo, segundo ela, o bloco não ficou à toa. “O frevo de bloco precisou se adaptar para se parecer com frevo. Foi assim que a musicalidade se modificou e chegou à marcha de bloco”. No final, Carmem Lelis leu um texto de memória de carnaval, que ela escreveu, em que fala dos carnavais.

Uma apresentação musical de frevo do bloco lírico foi feita pelos componentes de O Bonde. Na sequência, o presidente do bloco lírico O Bonde, Cid Cavalcanti, fez discurso de agradecimento. “Depois de tudo o que foi dito, tenho que afirmar que essa homenagem só nos enche de alegria. Eu sou acostumado a enfrentar plateias, mas não com esse nível de emoção”. Ele disse que comemorar o aniversário da agremiação, com  os integrantes, era “um privilégio” e que ele só tinha “a palavra gratidão para se expressar”.

Cid Cavalcanti lembrou que o bloco carnavalesco esteve outras vezes no plenário da Câmara Municipal, em duas oportunidades, inclusive quando a agremiação recebeu a Medalha de Mérito José Mariano. “O Bonde é um ajuntamento de pessoas que amam a tradição e que tem como missão fazer feliz todos os que participam e todas as outras pessoas”. Ele também afirmou que os componentes do bloco são “vocacionados a nadar contra a corrente” e que a agremiação “tem a característica de resistência cultural, política e social”.

A influência espiritual do bloco também foi abordada em seu discurso. “O reflexo da espiritualidade está em tudo o que fazemos. Levamos isso muito a sério”. Ele contou que o bloco nasceu de uma tradição da Bandeira de São João e que por isso, ele é o santo festejado pela agremiação.  No sincretismo, São João é Xangô, também guia do bloco.  “O Bonde nasceu em 23 de setembro, que é o Dia dos santos Cosme e Damião. Todas essas referências não são traçadas por nós, mas as recebemos como missão e bandeira, refletidas em nosso flabelo. Vamos sustentar esse flabelo enquanto força tiver”.

A ex-secretária da Cultura do Recife, Leda Alves, também fez saudação ao bloco. No final, houve mais uma apresentação musical de frevo do bloco lírico. E a presidente da solenidade, vereadora Dani Portela, convidou a todos os presentes para que, em posição de respeito, possam ouvir e acompanhar o Hino da Cidade do Recife.

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Em 01.09.2022.