Ceroula de Olinda é homenageada na Câmara pelos 60 anos de fundação

O aniversário de 60 anos de um dos maiores e mais importantes grupos do carnaval pernambucano, a Troça Carnavalesca Ceroula de Olinda, fundada em 1962, foi celebrado em uma reunião solene na Câmara Municipal do Recife, nesta quarta-feira (23). O vereador Rinaldo Junior (PSB), autor da iniciativa, destacou fatos marcantes no surgimento e trajetória da Troça. A celebração na Casa de José Mariano foi presidida pelo vereador Hélio Guabiraba (PSB) e animada pela Orquestra de Frevo Henrique Dias, diante de um plenário repleto de integrantes e admiradores.

Além dos vereadores Rinaldo Junior e Hélio Guabiraba, a Mesa da solenidade foi composta pelo presidente e pelo presidente de honra da Troça Carnavalesca Ceroula de Olinda, Carlos Augusto Corrêa e  Marcos Aurélio de Queiroz Sales, respectivamente. Uma placa comemorativa foi entregue aos representantes da Troça.

A Troça Carnavalesca Ceroula de Olinda foi fundada em 1962 a partir de uma brincadeira entre amigos, conhecidos como Cabela, Artur, Gilvan, Lucilo, Jamones e Lúcio. O primeiro desfile do grupo no carnaval da cidade de Olinda contou com 16 pessoas, apenas rapazes que, naquela época, vestiam ceroula, camisa de manga comprida branca, gravata borboleta, colete, chapéu, bengala e sapato preto bico fino. O figurino dos integrantes mudou um pouco ao longo dos anos e os desfiles são seguidos por uma multidão de pessoas.

Ao homenagear a Troça Carnavalesca por ter completado seis décadas de existência no dia 5 de janeiro deste ano, Rinaldo Junior fez questão de destacar algumas características. “É um bloco gigante. Estamos diante de uma família porque, quando vem a tropa do Ceroula, vem um arrastão grande, de homem vestido de ceroula com aquele chapéu de pescador e a camisa listrada que a gente vê de longe”, afirmou. 

O parlamentar observou que 16 pessoas presentes à solenidade no plenário da Câmara do Recife estavam usando a camisa da Ceroula. “Não sei se foi coincidência ou de propósito, mas contei aqui 16 pessoas com a camisa, e lembrei que 16 pessoas saíram na primeira vez com a Ceroula. Coincidência à parte, eu fico muito feliz por estar aqui hoje. Isso entra para a nossa biografia. Que essa homenagem quebre barreiras para que o carnaval da Ceroula seja mais representativo”, disse, ao lembrar que em todos esses anos de existência, não só homens participam da folia, mas as mulheres também se integraram.

O vereador chamou a atenção para o cenário político do Brasil nos anos 1960, lembrou que o País viveu a ditadura militar e a censura era uma realidade até mesmo no carnaval. “A [Troça] Ceroula recebeu muitas censuras na época da ditadura por seus integrantes desfilarem de ceroula naquele momento. Toco nesse assunto porque ontem a bandeira de Pernambuco, que também é um marco do nosso carnaval, da nossa forma guerreira, sofreu uma ameaça gravíssima por ser confundida com temas LGBT num país totalitário que é o Qatar”, salientou lembrando do episódio que envolveu o jornalista Victor Pereira, na Copa do Mundo 2022. 

Representando a Troça Carnavalesca Ceroula de Olinda, o jornalista e historiador Jairo Cabral ocupou a tribuna e destacou que o carnaval é a “maior festa de participação popular brasileira” e que retrata o que é a sociedade. “Existem diferenciações e conflitos de classe que são evidentes. Essa máxima de que o carnaval é uma festa igual para todo mundo não é verdade desde os primórdios, quando já existia o carnaval fechado, da elite, e o carnaval de rua”, analisou. 

De acordo com Jairo Cabral, a Ceroula é uma troça pernambucana que representa a identidade cultural que nasceu de um grupo de jovens. “Ela é dissidência da uma troça chamada ‘O pijama’. Então, jovens saíram e fundaram a Ceroula de Olinda, que tinha como proposta inicial o nome de ‘Cueca’”, lembrou. 

"Eu vou este ano pra lua, não é privilégio, foguete já tem" -  O hino da Troça Ceroula é cantado no carnaval do Estado e muito conhecido pelos foliões. A música fala da viagem à lua e da possibilidade de lá ter folia também. "O hino foi composto despretensiosamente por Milton Bezerra de Alencar e é um dos mais executados no carnaval de Pernambuco, o que deu um destaque muito grande a Ceroula, que rivaliza com o Elefante e a Pitombeira no carnaval de Olinda”. 

Jairo Cabral explicou que a Troça Carnavalesca vem crescendo e passando por várias gerações. “Na fundação, a Ceroula era uma troça que congregava amigos e familiares, era uma troça pequena. No segundo momento foram convidados amigos dos amigos. Depois, a Ceroula entrou na fase comercial, porque até então se bancava, e agora, estamos na quarta geração”. O historiador finalizou o seu discurso recitando o poema “Carnaval do Recife” do pernambucano Alcides Ferreira.

O presidente da Mesa, vereador Hélio Guabiraba parabenizou a Troça pela comemoração na Casa. “Foi um ato muito bonito e importante. É sempre bom homenagear um bloco que tem uma história em Pernambuco. Parabenizo a Ceroula", disse. "É uma história muito linda”. 

Clique aqui e acompanhe a solenidade na íntegra.

Em 23.11.2022