Mônica Oliveira, Mirtes Renata de Souza e Denise Botelho são homenageadas em solenidade dedicada a mulheres negras
Após a execução do Hino Nacional pela cantora Manu Travassos, Dani Portela subiu à tribuna da Câmara para destacar a trajetória de cada uma das homenageadas. No discurso, ela também refletiu sobre a necessidade de avançar no enfrentamento às desigualdades enfrentadas por mulheres negras no Brasil. “Nós somos maioria. Maioria na população do Brasil, na população de Pernambuco e na população do Recife. E nós não queremos ser só maioria dos piores índices, dos piores números, das piores estatísticas. Queremos ser maioria na ocupação dos espaços também”.
Ativista atuante nos movimentos negro e de mulheres, Mônica Oliveira é recifense, assessora parlamentar, educadora e comunicadora. Participante de grupos como o Movimento Negro Unificado, o Observatório Negro do Recife e o Afoxé Alafin Oyó, integra hoje a Associação Negra de Pernambuco (Anepe) e a Coalizão Negra por Direitos, contribuindo ainda com movimentos nacionais e internacionais.
Em seu pronunciamento, Oliveira dedicou a Medalha Olegária Mariano a integrantes da Rede de Mulheres de Pernambuco e às mulheres e homens do seu ilê. “Eu espero que muitas outras mulheres subam aqui nesta tribuna para receber esta medalha. Eu espero que esta Casa esteja fazendo um aprendizado que permaneça, que seja perene. Nós sustentamos as cidades. Nós, mulheres negras, sustentamos a cultura e a religião do nosso povo. Nós sustentamos as nossas famílias, as nossas comunidades. Somos nós que estamos mantendo este país de pé. Somos 28% deste país e ainda não estamos representadas como deveríamos”.
Mirtes Renata Santana de Souza é estudante de direito e mãe do menino Miguel Otávio, que faleceu em junho de 2020 após cair do nono andar de um edifício residencial do Recife, quando estava sob os cuidados da então patroa de sua mãe. O caso levou Mirtes Renata a se posicionar por justiça e a denunciar o caso como uma consequência do racismo.
“Esta homenagem é para todas as mulheres negras, batalhadoras, guerreiras que estão na luta contra o racismo, contra a violência, lutando para sustentar suas casas e sobreviver nesta sociedade tão racista”, disse. “Hoje estou recebendo esta medalha em reconhecimento à luta que eu venho travando. E só estou aqui hoje lutando por amor ao meu filho. Meu filho está hoje aqui representado, porque é um espaço em que eu queria que ele estivesse”.
Natural de São Paulo (SP), Denise Botelho é ialorixá e doutora em educação pela Universidade de São Paulo, com pós-doutorado em educação pela Universidade Federal da Paraíba. Atualmente, é professora do Departamento de Educação da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Em sua atuação acadêmica, trabalha com temas como educação e igualdade racial e religiosa.
Na tribuna, a nova Cidadã do Recife disse que a capital pernambucana concedeu a ela um reconhecimento raramente concedido a mulheres negras. “As mulheres negras deste país estão condenadas a viver à margem da sociedade. Estamos submetidas à interseccionalidade do gênero e da raça. Significa dizer que todas as nossas mazelas quase sempre vêm multiplicadas”, afirmou. “Muitas mulheres negras passarão uma vida inteira e não serão homenageadas, nem no círculo familiar. Mas o Recife me deu esse presente. Foi nesta cidade que a minha família de fé me surgiu. É aqui que eu olho para cada filho e filha, para a minha mãe e para o meu pai espirituais, e digo: é nesta cidade que eu vou ficar. Esta cidade me deu o que é mais precioso: reconhecimento”.
Ao fim do evento, o vereador Zé Neto se posicionou como um aliado na luta por políticas públicas antirracistas. “Estou vereador do Recife e o nosso mandato também tem se dedicado a dar a sua contribuição para a diminuição das desigualdades sociais e ao enfrentamento, sim, ao racismo. Não podemos admitir que tenhamos esse tipo de postura”.
Clique aqui e assista a matéria do TV Câmara do Recife.
Em 30.11.2022