Abastecimento irregular d'água no Recife é debatido em audiência pública

Sob o tema: “O abastecimento irregular d'água na cidade do Recife”, o vereador Ronaldo Lopes (PSC) promoveu uma audiência pública, no plenarinho da Casa de José Mariano, para discutir com a população, sociedade civil, Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), Ministério Público de Pernambuco (MPPE) sobre quais caminhos podem ser traçados para solucionar o problema. Na justificativa do evento realizando na manhã desta quarta-feira (5), o parlamentar ressaltou que “está sendo recorrentemente acionado pela população para acompanhar de perto e averiguar a situação da falta d’água”.

A mesa do evento foi composta pela diretora Regional Metropolitana da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), Nyadja Menezes, a promotora do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), Liliane da Fonseca; e o representante da sociedade civil, Lucas Leandro, da comunidade do Córrego do Jenipapo.

Ronaldo Lopes iniciou a audiência pública destacando o direito do acesso à água e exibiu um vídeo mostrando as demandas de vários moradores. “O acesso é direito de todos e dever do Estado e o exercício desse direito depende de ações do Estado que deve garantir o acesso à água potável e regular. Essa audiência pública é uma proposição que todos os dias ouvia da população recifense. Eu moro com muito orgulho numa comunidade da zona norte do Recife, e dentre os problemas que a gente já tem, temos um muito grande que é a falta de abastecimento regular. E isso ocorre em diversas comunidades na capital pernambucana. Acho que uma das regiões que mais sofre com a falta de abastecimento regular é a zona norte”.

A diretora da Compesa ressaltou a importância de estar numa audiência pública e que outros desafios estão atrelados ao desabastecimento de água, como a falta de recursos.  “Estamos à disposição de servir e a gente está falando não só na questão da água, mas sobre a ocupação desordenada. Na forma como que as pessoas moram e ocupam as áreas de morros. Quanto mais investimento tiver, ainda será insuficiente porque a população não para de crescer dia após dia e os serviços básicos são extremamente essenciais. Falta alocação de dinheiro porque ninguém faz nada sem recursos. Sabemos da importância de recursos que vêm carimbados para as áreas de educação, saúde, mas a gente não vê recursos que são carimbados para área de abastecimento de água”.

Niadja Menezes explicou que há vários projetos na Companhia para serem executados, mostrou por slides os trabalhos em andamento e detalhou outras necessidades visando a melhoria no abastecimento de água. “Temos projetos prontos no Recife e vimos a possibilidade da água subterrânea voltar a ser um protagonista. Por isso, começamos há dois anos a perfuração de poços. O Córrego do Jenipapo, que é uma das áreas mais críticas e carentes, há uma necessidade de investimento, mas não só na questão da água chegar, mas que ela chegue com força. Esses poços que estão sendo perfurados em várias áreas do Recife vão, a curtíssimo prazo, melhorar a questão do abastecimento, mas não basta apenas levar a água. Precisa mudar uma série de fatores como as nossas unidades elevatórias que também estão sendo implantadas, redes diferenciadas no morro e a setorização”.

A promotora do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), Liliane Fonseca, exibiu um vídeo detalhando as ações do órgão em relação à questão da falta d´água. Ela reconheceu os esforços da Compesa, mas confessou que a questão não melhorou no Recife. “A falta d´água na zona norte da capital pernambucana remonta a mais de 22 anos. Então, isso é um fato histórico e eu não entendo como sendo razoável. A Compesa  é concessionária única do serviço de abastecimento de água no Estado de Pernambuco. O fato é que nós, pernambucanos, sofremos muito com a falta d’água e também com a qualidade. Precisamos unir esforços. Vamos fazer um fórum com a Agência Reguladora de Pernambuco (Arpe), Compesa, governo do Estado, Secretaria de Recursos Hídricos, comunidades e Ministério Público. Enfim, todos os órgãos para analisar o que se pode fazer pelos habitantes da região da zona norte do Recife, notadamente dos morros, que é a área menos favorecida”.

Representando a sociedade civil, Lucas Leandro disse que ficou sensibilizado com o depoimento de uma moradora apresentado no vídeo e que se sentia representado pelas lideranças comunitárias presentes que sabem dos reais problemas no cotidiano. “A fala da senhora Roberta foi muito forte dizendo que ela dependia da chuva para poder fazer os afazeres em casa, como cozinhar e dar banho no filho que é especial. A gente pede tanto para que não chova por conta das áreas de risco, mas a gente se depara com a questão dessa senhora. Então, ter esse diálogo com a Compesa, aqui, é muito importante. Termos esse contato, trazer as demandas e ouvir. As lideranças comunitárias estão abertas para falar e me sinto também representado por todos e todas que estão aqui”.

Após as palavras dos participantes da mesa, foi dado um espaço de fala à população e a Compesa anotou todas as demandas e endereços citados. O morador Alcidésio, do Ibura, disse que existem vários canos de cimento amianto, colocados na década de 1960, em vários pontos da comunidade. “O mais grave é que essa substância é cancerígena. O que gente pede é socorro”, alertou.

Alexandro Vieira, da Guabiraba, destacou que existe uma caixa da Compesa, no Alto do Jiquiri e que há um vazamento. “Essa caixa está aberta, a população entra para tomar banho e fizeram um chuveiro que está provocando mofo numa residência. E o lixo no local está grande. A gente pede também que a Compesa faça uma caminhada nos morros para monitorar os vazamentos nos canos”.     

O morador Alexandre, da Linha do Tiro, ressaltou que era importante a Compesa se aproximar mais da comunidade. “Porque na hora de cobrar a conta, o funcionário está lá. A pessoa que vai cobrar deveria perguntar se existe vazamento. E são vários os vazamentos. Por que a falta de água? Está é sendo desperdiçada. Será que existe uma força-tarefa da Compesa para dar uma solução? Sem água, nós não vivemos”.

Dentre os encaminhamentos, o vereador Ronaldo Lopes citou sugestões para a Compesa de como orientar os moradores em relação aos vazamentos e a criação de um curso com lideranças comunitárias. “Quando ocorrer um vazamento, a Companhia poderia informar como a população deve ser orientada, se existe algo que poderia ser feito, como um curativo, por exemplo. Segundo, seria a realização de um curso com os líderes comunitários. A Defesa Civil realiza um curso com os líderes, instruindo-os, e depois eles saem como multiplicadores de informação ou agentes informativos, como queiram chamar. Dessa forma, isso traria uma comunicação melhor da Compesa com a população”.

Em resposta, Nyadja Menezes falou que já houve uma parceria com o Senai de um curso de formação de mulheres encanadoras e anunciou que poderia ocorrer outra edição. "Todas elas serão encaminhadas para o mercado de trabalho. Precisamos de vocês como parceiros e a próxima turma será na área de morros”.

Clique aqui e assista a matéria do TV Câmara do Recife.

Em 05.04.2023