Audiência pública debate o papel social da arte urbana

O papel social da arte urbana foi o tema da audiência pública promovida pela vereadora Cida Pedrosa (PCdoB), no plenarinho da Câmara do Recife, na tarde desta segunda-feira (17). Representantes da sociedade civil, coletivos culturais, secretarias municipais e artistas participaram do debate. Segundo a parlamentar, no Brasil, existe uma crescente e bem consolidada cena de arte urbana e reocupação do espaço público, transformando em galerias de arte a céu aberto lugares que historicamente perderam o direito à memória e a narrativa.

“A gente tem que pensar o papel da arte urbana a partir do pertencimento e do direito da cidade. O direito da cidade prevê algo maior, que é toda a construção de uma reforma urbana para o bem viver. E na Região Metropolitana do Recife, o esforço constante da cena artística plural tem ajudado a surgir expressões profundamente comprometidas com as tradições locais, mas conectadas com a contemporaneidade, como é tradição na criação pernambucana, sempre ressoando com o mundo”, explicou Cida Pedrosa.

O artista e estudioso Manoel Quitério ressaltou que a arte vem para dar voz aos anseios individuais e coletivos e citou sugestões. “Propor espaços de livre prática, sem tentar domar a voz da rua; interação com as escolas públicas como um elemento de educação; construção de cursos e intercâmbios; linhas de incentivo para os artistas, como a Lei Paulo Gustavo e Aldir Blanc, com linhas para os artistas urbanos e para os coletivos”.

Ana Paula Vilaça, chefe do gabinete do programa Recentro, disse que o Recife possui um centro belíssimo que segue os padrões arquitetônicos artísticos, e enalteceu o papel transformador da arte urbana. “Eu acredito que a gente pode e deve investir cada vez mais no papel transformador da arte urbana. O programa Recentro surgiu e a gente tem várias ruas e painéis em parceria com a Secretaria de Inovação Urbana, como na Rua dos Amores, um projeto da Secretaria de Turismo que foi abraçado pela empresa Boticário, e temos um painel de sete artistas numa área de convivência e que modifica a sensação de pertencimento. Tenho orgulho das pessoas que fazem a nossa cultura”.  

Flaviana Gomes, representante da Secretaria Executiva de Inovação do Recife, destacou ações da pasta. “Um programa muito importante para a cidade é o Colorindo Recife onde há um credenciamento com cerca de 100 artistas urbanos onde eles realizam painéis de arte urbana e oficinas. Fizemos um ano desse edital do Colorindo Recife que foi construído com a participação de vários artistas. Também temos um edital de mega murais onde temos planejados, para esse ano, cerca de cinco mega murais. A Prefeitura do Recife acredita que a arte urbana realmente promove a requalificação dos espaços públicos e que esse instrumento de arte faz a diferença na transformação social”.

Dirceu Marroquim, secretário executivo de Articulação da Secretaria de Cultura do Recife, ressaltou o papel da arte urbana e detalhou editais que podem ajudar. “A arte urbana tem um poder formativo que talvez seja sem precedente no espaço urbano. Você consegue ver elementos que evocam uma presença muitas vezes silenciada dentro do livro de história. A Secretaria tem feito um esforço da retomada do Sistema de Incentivo à Cultura (SIC) e a ideia é que a gente regularize esse edital. E a arte urbana pode concorrer a um recurso e pleitear um projeto”.

Ione Ferreira, subcomandante da Guarda Municipal do Recife, enfatizou que a corporação está de braços dados com a arte urbana. “Nós somos seguranças, mas também gostamos de arte. E para isso, estamos aqui em apoio para qualquer situação. Atuamos em várias áreas, mas quando se trata de arte urbana, a gente está para dar o apoio e para garantir a segurança dos artistas”.

Tacio Russo, artista e técnico de Artes Visuais do Sesc Pernambuco, disse que o pilar essencial da linguagem técnica da arte urbana é a ocupação do espaço público. Ele também anunciou o projeto Entre Ruas. “O espaço público não tem dono.  E como vamos pensar no espaço público se a arquitetura é hostil? A arte urbana nasce da periferia. Em primeira mão, teremos um projeto, o Entre Ruas, voltado especificamente para a arte urbana. Serão editais de ocupação de muros, espaços em galerias para expor e formações dos artistas. Arte urbana é extremamente pedagógica e não está desvencilhada de uma teoria de prática formativa. Reitero a Arte Urbana no mais vasto conceito que ela é”.  

José da Costa, promotor e coordenador do Núcleo de Preservação do Patrimônio Histórico Artístico Cultural do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), explicou que o interesse do órgão é o de promover a Arte Urbana e citou o exemplo do ICMS Cultural. “O nosso papel é o de promover a arte urbana, de protegê-la e difundi-la. Também temos todo o interesse de participar das políticas de fomento. Há exemplos bem-sucedidos com outras cidades, e poderíamos trazer para o Recife, que já adotaram modelos participativos numa regulação construída de forma coletiva. Existe uma experiência positiva de fomento chamada ICMS Cultural. Os bons exemplos a gente pode se pautar e aprofundar. A arte urbana é uma forma de ressocialização e de pertencimento”.

Após as falas da mesa, várias pessoas fizeram perguntas e deram sugestões. Pedro Estilo, do Coletivo Pão e Terra, citou que o Sindicato do Grafite foi formado e sugeriu um projeto de lei que obrigue a ter uma obra de grafitagem nas unidades educacionais. “É um projeto de lei para os espaços da educação. Assim como a Lei Abelardo da Hora, onde tem que fazer uma escultura na frente de cada prédio, a gente quer que todo espaço da educação tenha um grafite também. Esperamos que seja aprovado aqui, na Câmara do Recife”.  

Rebeca França, da Frente Popular Arte Urbana por Direitos, comentou sobre a questão da segurança pública. “É preciso melhorar muito o diálogo com a segurança pública. E não ficarmos mais com um sentimento de sermos inimigos uns dos outros”.

O artista Leopoldo Nóbrega disse que a arte urbana poderia abrir espaço para um tipo de linguagem como a da cerâmica, por exemplo, e citou um projeto com esculturas . “A arte urbana abre espaço ou deveria abrir espaço para esse tipo de linguagem. Temos conquistado um espaço com a inovação urbana para a linguagem de mosaico que é uma conquista muito grande. A gente vai ter em breve escadarias e outras ocupações para lembrar a importância da escultura tridimensional tão pouco representada. E temos um projeto em cima dessa metodologia do Galo da Madrugada de criação, ressignificação (de materiais e de inclusão do público como sendo parte da obra), para a ocupação de canais com esculturas de arte envolvendo o aproveitamento de descartes que são coletados nos canais”.

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Em 17.04.2023