Câmara aprova obrigatoriedade de mensagens de combate à violência contra a mulher em estádios de futebol
Na tribuna do plenário, Ana Lúcia afirmou ter frequentado estádios de futebol desde a infância – no entanto, sempre com a presença masculina de seu pai, por conta de uma compreensão dos riscos existentes às mulheres. “Não é comum, nesses ambientes, nós, mulheres, nos sentirmos à vontade. Sobretudo por se tratar de um ambiente predominantemente masculino”, disse, mencionando relatos ouvidos de meninas em sua carreira como professora. “E não é ainda hoje. É muito comum eu ouvir relatos das adolescentes das quais eu sou professora que elas são apalpadas, ofendidas, injuriadas, ameaçadas, pisadas em seus pés”.
Ao defender a aprovação do projeto, a parlamentar citou dados que demonstram haver picos de violência contra a mulher em dias de jogos de futebol. “Uma pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública publicada no ano passado analisou a relação entre os dias de jogos do Campeonato Brasileiro e os índices de violência doméstica. O resultado encontrado foi o seguinte: no dia em que o time da cidade joga, o número de ameaças contra nós, mulheres, aumenta 23,7% e o número de lesão corporal dolosa, no contexto da violência doméstica, cresce 20,8% em relação aos dias sem jogos”.
Ana Lúcia acrescentou que esses dados indicam que há uma cultura que permite que homens se utilizem da violência contra os corpos das mulheres para lidar com frustrações. “Não estamos dizendo que o futebol e o estádio trazem a violência. O que queremos dizer é que está muito claro nas estatísticas é que não é um ambiente propício para as mulheres”, argumentou. “Nós temos que derrubar essa cultura do patriarcado. Em um ambiente como esse, de festa e de futebol, cabem todos nós: cabem homens, mulheres, meninas livres no seu direito de estarem ali respeitadas, sem medo de sofrer qualquer tipo de violência”.
Para a vereadora, essa situação justifica a existência de determinações específicas para os estádios. “Esses dados reforçam a necessidade de termos legislações voltadas para esses espaços. Se aqueles painéis eletrônicos existem e passam diversas propagandas, por que não ter ali o Disque 180, por que não ter mensagens da Secretaria da Mulher e do Centro Clarice Lispector, que é um centro de referência no enfrentamento à violência contra as mulheres?”
Em aparte, o vereador Luiz Eustáquio (PSB) corroborou a proposta da colega. “Em qualquer lugar em que tenha multidão, a questão do desrespeito à mulher é muito sério. Os homens se sentem no direito de desrespeitar e de se aproveitar. O seu projeto vai na direção esportiva, mas tem muitas outras áreas também. Esse projeto vem, sim, em boa hora para trazer a questão da proteção”.
A vereadora Cida Pedrosa (PCdoB) disse que a possível nova lei vai fazer com que ações pontuais com clubes de futebol se tornem uma política permanente do Recife. “Esse é um projeto bom para a cidade, bom para as mulheres, bom para o bem viver. Quando eu fui secretária da Mulher, nós fazíamos parcerias com os clubes de futebol para, antes de o jogo começar, a gente entrar com uma enorme faixa pedindo que não houvesse violência contra nós, mulheres. Mas isso era uma parceria específica da secretaria com os times. E, agora, vai ser lei”.
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Em 18.04.2023