Comissão de Igualdade Racial discute problemas nas políticas de fomento à cultura popular

A Comissão de Igualdade Racial e Enfrentamento ao Racismo da Câmara do Recife promoveu uma reunião com seus membros nesta quarta-feira, na sede do Poder Legislativo. Presidido pela vereadora Pretas Juntas (PSOL), o grupo discutiu com líderes da cultura popular os problemas enfrentados pelos fazedores e fazedoras dessa cultura – em geral, pessoas pretas das periferias da capital pernambucana.

A representante do mandato Pretas Juntas, Elaine Cristina, afirmou que a Comissão vai reunir os relatos de racismo e de descaso com a cultura popular periférica do Recife, especialmente em relação aos festejos de Carnaval. “A proposta desta reunião e das próximas é ouvirmos lideranças que passaram por situações de racismo no Carnaval do Recife de 2023”.

Segundo Débora Aguiar, que também participa do mandato das Pretas Juntas, a fiscalização do descaso com grupos de cultura popular está conectada ao enfrentamento ao racismo. “A gente tem o intuito de promover o debate e fomentar as políticas públicas que perpassam por esta comissão para a população do Recife. A cultura popular da nossa sociedade, em específico, tem uma forte influência do povo negro: os maracatus, os afoxés, os caboclinhos, o frevo são manifestações culturais originadas, realizadas e mantidas majoritariamente por pessoas negras e periféricas da nossa cidade”.

O encontro também contou com a participação do vereador Luiz Eustáquio (PSB). Ele fez um elogio à condução de Pretas Juntas à frente da Comissão de Igualdade Racial. “Para nós, é um prazer muito grande sermos liderados [pela vereadora Pretas Juntas] nesta comissão, que tem um tema muito importante para a nossa sociedade: a afirmação desse povo, que é o povo negro, que foi escravizado e trazido para este continente. E que, ao chegar aqui, tem que lutar muito, daquela época até hoje”.

Foram convidados para o debate os líderes culturais Paulinho 7 Flexas, do Caboclinho Sete Flexas, e o presidente do Afoxé Alafim Oyó, Fabiano Santos. Dentre os temas abordados, estavam a insuficiência dos cachês pagos pela Prefeitura aos grupos culturais, os atrasos nesses pagamentos, e alegações de descaso do poder público na distribuição desses grupos nos polos de apresentação.

“A demanda do Carnaval deste ano, que eu achei errado, foi colocar várias brincadeiras no Cinco Pontas. Ali não é um local para a cultura que temos se apresentar: sem iluminação, sem nada”, afirmou Paulinho 7 Flexas. “Tem tanto lugar bom dentro do Recife para colocar a cultura. E não naquele lugar. Até o ônibus da gente foi assaltado naquele mesmo lugar”.

Para Fabiano Santos, as omissões e descasos com a cultura popular se acumularam com a desestabilização política do país e com a pandemia de covid-19. E, de acordo com ele, o Carnaval de 2023 não trouxe a retomada esperada para os fazedores e fazedoras de cultura. “Esses seis anos que a gente viveu serviram para a gente pensar de que forma a gente deve compartilhar experiência, conhecimentos e na economia. Quem salvou a população preta e periférica foram os próprios pretos, os próprios movimentos que foram taxados, nesses seis anos, como marginais”, disse. “A retomada não foi bem retomada. Foi muito mais a continuação de algo desastroso, algo que já estava prenunciado e que vai nos fazer ser só lembrança em museu daqui a pouco tempo”.

Durante a reunião, também foram distribuídos aos relatores dois projetos para a emissão de pareceres. O primeiro, o projeto de lei nº 235/2022, é de autoria da vereadora Liana Cirne (PT) e trata da criação do Fundo Municipal de Promoção do Afroempreendedorismo do Recife. O segundo, o projeto de resolução nº 05/2023, foi proposto pelo vereador Ivan Moraes (PSOL) e dispõe sobre a fixação, na Câmara do Recife, de uma placa em homenagem à Marielle Franco e pelo fim da violência política de gênero e de raça.

Clique aqui e assista a matéria do TV Câmara do Recife.

Em 05.04.2023