Vera Baroni é Cidadã do Recife

Considerada um dos principais nomes dos ativismos negro e feminista de Pernambuco da atualidade, a carioca Vera Baroni recebeu nesta quinta-feira (25), da Câmara Municipal, o Título de Cidadã do Recife. A cerimônia de entrega da homenagem, proposta pelo vereador Ivan Moraes (PSOL), ocorreu no plenário da Casa de José Mariano. Presidido pela vereadora Pretas Juntas (PSOL), o evento foi prestigiado por representantes de movimentos sociais e trabalhistas.

Vera Regina Paula Baroni é advogada, sanitarista, ativista pelos direitos humanos e feminista negra. Partindo de uma militância que se iniciou com um trabalho de alfabetização de adultos, mudou-se para o Recife em 1968. Aqui, fundou e presidiu o Sindicato dos Trabalhos em Saúde e Previdência do Estado de Pernambuco (Sindsprev-PE). Também é fundadora da Rede das Mulheres de Terreiro de Pernambuco, da Uiala Mukaji – Sociedade das Mulheres Negras de Pernambuco –, da Rede de Juristas Negras de Pernambuco, e do Partido dos Trabalhadores em Pernambuco.

Na Câmara do Recife, Baroni já foi agraciada por outras honrarias: a Medalha Olegária Mariano, concedida no início de maio deste ano, e a Medalha de Mérito do Judiciário Ministro Djaci Falcão, em dezembro de 2018.

Na tribuna da Casa, Ivan Moraes disse ter se surpreendido ao perceber que Vera Baroni ainda não havia recebido o Título de Cidadã do Recife. “A gente está falando de uma pessoa que, há muitas décadas, é a referência em diversos temas, em diversas lutas. É uma pessoa que todo mundo admira, uma rara possível unanimidade no campo progressista”, relatou. “Quando a gente viu que ela não tinha recebido a Medalha, corremos para protocolar o projeto de decreto legislativo e o aprovamos. E aí veio a pandemia de covid e a gente não pôde fazer essa celebração. Poderíamos ter feito de forma on-line, de uma forma mais fria, mas esperamos a oportunidade de fazer presencialmente esta homenagem”.

O parlamentar ainda afirmou que, em sua própria trajetória de ativismo, procurou se guiar pelos ensinamentos de Baroni. “Essa mulher é uma referência na minha vida. É uma pessoa para quem eu olho, admiro, sigo cada passo. Vera tem uma forme tão doce, delicada e generosa de dizer coisas muito duras, muito pesadas. Ela é capaz de negritar o racismo de uma pessoa na frente dela e a pessoa sair apaixonada por Vera. Eu acho que isso são lições que a gente precisa ter. Além de todas as outras lições, de todas as outras aulas que Vera costumeiramente dá, eu acho que essa é uma sobre a qual eu reflito na minha prática cotidiana”.

Após a entrega do Título de Cidadã e da respectiva Medalha, Vera Baroni ocupou a tribuna da Câmara para fazer as suas considerações. Em seu pronunciamento, teceu agradecimentos a Ivan Moraes e ao público presente e prestou um depoimento sobre a trajetória que a trouxe à capital pernambucana.

A nova cidadã contou ter iniciado o seu trabalho com a alfabetização de adultos pelo método Paulo Freire no Rio de Janeiro em 1962 e que precisou interromper a atividade temporariamente devido ao golpe militar de 1964. Em 1967, mudou-se para o Espírito Santo e, em meio às mudanças políticas que marcaram o Maio de 1968, decidiu promover uma mudança de vida. À época, lembrou-se das vivências com seus alunos, predominantemente nordestinos, dos relatos que um deles fez sobre o Movimento de Cultura Popular (MCP) do Recife e das músicas de artistas como Luiz Gonzaga, que ouvia por meio das emissoras de rádio. “Tudo isso reforçou em mim o desejo de conhecer Recife e seu povo”, lembrou.

A leitura do texto ‘Até Quarta, Isabela!’, uma carta do criador das Ligas Camponesas, Francisco Julião, também marcou a decisão de Baroni. No texto, o deputado e advogado pernambucano informava a sua filha, Isabela, as razões que o fizeram deixar o Brasil e se exilar, como a perseguição política da ditadura militar e o risco de ser torturado e morto.

“Mais uma vez, Pernambuco me tocou e, à época, após a análise da conjuntura nacional, o meu entendimento era de que a sociedade brasileira tinha um caráter agrícola, e imaginava ser Recife a cidade referência no Nordeste. Por isso, decidi vir ao Nordeste e a Recife, para ver, conhecer e ficar”, disse. “Agradeço ao vereador Ivan Moraes por me permitir relembrar esses anos passados e torná-los públicos. Agradeço ao vereador por se emocionar com a minha história e propor a concessão desse honroso Título de Cidadã do Recife”.

Além da homenageada, de Ivan Moraes e de Pretas Juntas, também compuseram a mesa de honra da reunião solene a deputada estadual Dani Portela (PSOL), o vereador de Olinda Vinicius Castello (PT) e a vereadora do Recife Liana Cirne (PT).

Ao final do evento, Pretas Juntas não deixou de expressar sua satisfação pela oportunidade de presidir a solenidade. “É uma honra poder presidir esta reunião solene a convite do vereador e companheiro de bancada Ivan Moraes e dar esse Título de Cidadã a essa referência”.

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Em 25.05.2023