Dia Mundial do Orgulho Autista é comemorado na Câmara do Recife

A Câmara Municipal do Recife celebrou, na tarde desta segunda-feira (19), o Dia Mundial do Orgulho Autista, durante uma reunião solene promovida pela vereadora Liana Cirne (PT). A solenidade foi bastante prestigiada, contando com a presença de pessoas autistas, seus familiares e representantes de entidades. A emoção marcou os depoimentos com relatos de quem vive com o Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Além da vereadora proponente da reunião solene, a mesa de honra foi presidida pela vereadora Ana Lúcia (Republicanos) e contou com a presença de Cátia Bensoussan, pessoa autista, ativista e especialista em comportamento organizacional; João Carlos Leitão, pessoa autista, ativista e psiquiatra; Ediane Marques de Oliveira, pessoa autista, mãe de autista, ativista e pedagoga; Paulo Ricardo Anjos do Monte, biomédico, ativista e cofundador da Liga Neurau; e o secretário-executivo de Direitos Humanos da Secretaria Estadual de Justiça e Direitos Humanos, Jayme Asfora.

Na tribuna da Casa de José Mariano, se alternaram depoimentos emocionados que revelaram dificuldades e superação, mas sobretudo orgulho em ser autista. A vereadora Liana Cirne disse que conhece de perto os desafios do TEA. “Muitas das mães que estão aqui nós conhecemos nas lágrimas, no grito, no choro, na raiva. Quem é mãe e pai de autista sabe que não é fácil”, disse a parlamentar.

Visivelmente emocionada ela narrou situações cotidianas que essas famílias enfrentam. “Ser convidado para uma festa de aniversário, que é uma coisa cotidiana e nossos filhos não são”, lamentou. “A demora de um diagnóstico nos faz perguntar: por que não somos iguais ao outros, por que nossos filhos não são iguais aos outros?”, questionou. Em seguida disse que é necessário combater a exclusão e as dificuldades cotidianas enfrentadas por muitas famílias.

Liana Cirne afirmou também do orgulho que se deve ter em ser autista e do amor que norteia os relacionamentos familiares. Salientou que, “se pudesse escolher mil vezes escolheria ser mãe de uma pessoa autista”. Em seguida, ela chamou à tribuna seu filho, o estudante Pedro Lins, que falou da sua vivência como pessoa autista, das dificuldades na socialização e do quanto foi importante ter o diagnóstico e as informações.

“Eu comecei a me entender, pesquisar e entender”, disse. “Eu não tenho vergonha sobre quem eu sou. Eu estou aprendendo mais sobre mim mesmo. A importância desse Dia é ter orgulho” e enfatizou: “Eu sou eu”. Um forte abraço entre mãe e filho marcou o final do depoimento.

Em seguida, o psiquiatra João Carlos Leitão também fez suas considerações e relatou um pouco da sua história de vida. “Eu entrei na psiquiatria para me entender”, refletiu. Ele agradeceu a vereadora pela homenagem em reconhecimento à militância na causa do autismo e fez relatos sobre o diagnóstico tardio. Disse que só descobriu ser autista já na fase adulta. “Foram onze anos de dúvidas, de lutas internas, de autoconhecimento e, finalmente, de aceitação”. Ele argumentou que, além da inclusão social, é fundamental mais políticas públicas para garantir que “reconheçam e atendam as nossas necessidades específicas”.

Os problemas para se obter o diagnóstico também foram abordados pela pedagoga Ediane Marques de Oliveira. Ele é autista e mãe de autista “O diagnóstico da mulher autista é mais difícil, mas é libertador ter o diagnóstico certo”, afirmou. “Antes, é como se a gente tivesse num cantinho excluído. Quando se tem o diagnóstico, a gente passa a ter orgulho e dizer, “eu sou assim”.

Ela fez questão de dividir a tribuna com a especialista em comportamento organizacional Cátia Bensoussan que também fez suas considerações e relatou desafios de ser autista. Falou a importância de políticas públicas para proporcionar acesso à educação, à saúde e outros cuidados que são necessários à famílias que convivem com o autismo.

Dia Mundial do Orgulho Autista  - O Dia Mundial do Orgulho Autista, 18 de junho, foi instituído para informa à sociedade sobre as características únicas das pessoas diagnosticadas com algum grau do Transtorno do Espectro Autista (TEA).  A data é uma iniciativa da organização americana Aspies for Freedom e passou a ser celebrada no Brasil em 2005. O objetivo da data é desfazer concepções negativas sobre o autismo, promovendo ações de conscientização no sentido de que ele não é uma doença, mas uma variação neurológica natural da diversidade humana, que produz formas distintas e atípicas de pensamento, mobilidade, interação, processamento sensorial e cognitivo, e que deve ser respeitada.

Ao finalizar a reunião solene, a vereadora Ana Lúcia agradeceu a oportunidade de conduzir a solenidade e lembrou que seria concedido certificado às pessoas presentes.

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 Em 19.06.2023