Afoxés são homenageados em solenidade

Uma reunião solene foi realizada na Câmara Municipal do Recife, na noite desta quinta-feira (17), por iniciativa do vereador Ivan Moraes (PSOL), para homenagear os afoxés, que este mês conquistaram novo status cultural oficial no Recife. Durante o evento, 31 grupos de afoxé e mais duas instituições, receberam um voto de aplauso das mãos do parlamentar, que é o autor do projeto de lei que originou a Lei Municipal 19.067/2023, tornando a manifestação como Patrimônio Cultural Imaterial do Recife.

A presidente da solenidade foi a vereadora Elaine Pretas Juntas (PSOL), que abriu os trabalhos e fez a composição da mesa com o vereador autor do requerimento; o presidente da Comissão de Cultura da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), secção de Pernambuco, Sebastião Dantas; a Mãe Fátima, do Afoxé Omó Oba Dê; e a representante do  Afoxé Alafin Oyó, Yasmin Alves. Após a execução do Hino Nacional, Ivan Moraes foi convidado para ocupar a tribuna e fazer suas colocações.

“Vivemos um tempo de reparação e de retomada, neste país, que foi construído sobre o mito da escravidão. Um país construído sobre corpos sequestrados e escravizados. Este país que sempre teve na cultura popular negra um espaço de celebração e de resistência. É nesse lugar que nascem os afoxés, a partir dos terreiros de candomblés, que tocam o ijexá pelas ruas e se afirmam. E quando os afoxés vão para as ruas, a sensação é de que está dizendo: ‘Vamos aparecer para o mundo e mostrar que existimos’”, disse o vereador. Ele acrescentou em seguida que a palavra afoxé vem do iorubá e quer dizer “a fala que faz”.

O vereador Ivan Moraes reforçou o conceito de que o afoxé é uma manifestação da cultura afro-brasileira fundamentada nos preceitos do Candomblé, uma expressão permeada de subjetividades compreendidas pela intimidade da fé. Ele disse que o afoxé também é visto como uma representação artística e como agremiação carnavalesca, mas que é sobretudo um veículo de propagação das políticas de combate à desigualdade racial e a intolerância religiosa. “O carnaval funciona como uma celebração oportuna para os afoxés exibirem sua diversidade".

O parlamentar ressaltou que a solenidade de hoje se destinava a homenagear todos os grupos, não só os que têm sede no Recife. “Hoje, saudamos não somente os do Recife, mas de todos os afoxés da Região Metropolitana”, disse. Ivan Moraes observou, ainda, que dentro desta mesma proposta de valorização do afoxé, aprovou uma série de votos de aplausos, em reunião ordinária ocorrida nesta semana, a diversos grupos de afoxé. No final do discurso do vereador, um vídeo sobre os afoxés foi apresentado no telão do plenário da Câmara do Recife. Em seguida, o vereador fez a entrega de um certificado a cada um dos 33 homenageados.

A Mãe Fátima, do Afoxé Omó Oba Dê ocupou a tribuna e fez suas explanações. “Todos sabemos o quanto é preciosa a homenagem da noite de hoje. Afoxé é um legado que deixo para meus netos. Estarmos aqui é um ganho coletivo. Na minha opinião, é um momento de retratação. Cada um de nós sabe que não é fácil colocar um afoxé nas ruas. Ele é a continuidade de nossas casas. Muitos de nós saíram de seus quintais, criaram coragem, foram à luta. É a luta que traz a igualdade”.

Mãe Fátima disse que que era importante ocupar espaços como a Câmara do Recife, “que é de pertencimento do povo”, e acrescentou ter a esperança de um dia ver as bancadas ocupadas pelo povo. “Afinal, a luta não para. Eu não quero que ninguém me tolere, mas que me respeite. Eu respeito a todos porque o respeito é a base de tudo, do crescimento e fortalecimento. O respeito é a base da equidade e da igualdade”. Ela manifestou respeito e gratidão aos seus ancestrais e entoou uma cantiga que fala dos primeiros ancestrais que chegaram aos Brasil.

Yasmin Alves, do Afoxé Alafin Oyó também ocupou a tribuna e teceu seus comentários. Ela começou pedindo licença aos presentes e aos ancestrais e falou das origens do afoxé. “Afoxé é candomblé nas ruas”, disse. Falou do samba, nascido pela inspiração de pernambucanos, baianos e cariocas. “A origem é nossa, da população preta”. E também perguntou qual o lugar que os afoxés ocupam hoje no Estado de Pernambuco. Ela mesma respondeu, a partir de um levantamento que foi feito: Serra Talhada, Arcoverde, Pesqueira, Jaboatão dos Guararapes, Recife, Olinda, Paulista e Igarassu. “São 32 grupos em atividades”, disse.

Yasmin Alves lembrou ainda das dificuldades de sustentar planos e sonhos das pessoas que fazem o afoxé, uma vez que se mantém financeiramente com recursos próprios. “E porque precisamos falar dessa questão em dia de celebração? Porque a luta nunca deixou de ser falada”. Em nome da luta, ela acrescentou que toda população preta é herdeira de Zumbi e Dandara, do Quilombo dos Palmares. “Foi o quilombo que mais deu trabalho para a Colônia e para burguesia. Vamos continuar dando trabalho”. Ela lembrou que  “afoxé é esse elo entre gerações, é candomblé na rua, é movimento negro, é cor, é alegria”.

Ao final, a presidente da solenidade, vereadora Elaine Pretas Juntas, elogiou a iniciativa do reconhecimento da Casa e convidou a todos para acompanharem o Hino da Cidade do Recife.

 

Lista dos homenageados:

 

1. AFOXÉ OXUM PANDÁ

2. AFOXÉ OGBON OBÁ

3. AFOXÉ OMIM SABÁ

4. AFOXÉ ELEGBARÁ

5. AFOXÉ YLÊ DE EGBÁ

6. AFOXÉ ARÁ OMIM

7. AFOXÉ OMO LUFAN

8. AFOXÉ OKULÊ BYI

9. AFOXÉ BABÁ ORIXALÁ FUNFUN

10. AFOXÉ OXUM JAGURÁ

11. AFOXÉ FILHOS DE DANDALUNDA

12. AFOXÉ AFÉFÉ LAGBARÁ

13. AFOXÉ YAMIM BALÉ GILÊ

14. AFOXÉ OMO INÃ

15. AFOXÉ OMOLU PA KÉRÙ AWO

16. AFOXÉ OYÁ ALAXÉ

17. AFOXE OBÁ IROKO

18. AFOXÉ POVO DE OGUNTÉ

19. AFOXÉ ILÊ XAMBÁ

20. ASSOCIAÇÃO AFOXÉ FILHOS DE AYRA

21. AFOXÉ OMÓ OBA DÊ

22. AFOXÉ ALAFIN OYÓ

23. AFOXÉ XOROKÊ TALAXÉ

24. AFOXÉ FILHOS DE XANGÔ

25. AFOXÉ POVOS DOS VENTOS

26. AFOXÉ ALADÊ IFÉ

27. AFOXÉ OGUN TOPERINÃ

28. AFOXÉ ARÁ ODÉ

29. AFOXÉ ILÊ AXÉ EBÔ-LOLORIM

30. AFOXÉ TÈLÁ ÒKÓ ARA EJIBÔ

31. AFOXÉ OBÁ AYRÁ

32. AFOXÉ OMÔ NILÊ OGUNJÁ

33. UNIÃO DOS AFOXÉS DE PERNAMBUCO

 

Clique aqui e assista a matéria do TV Câmara do Recife.

 

Em 17.08.2023.