Ana Lúcia frisa pedido de criação de Frente Parlamentar em Defesa da Saúde Mental e Emocional
De acordo com Ana Lúcia, a Frente vai “aglutinar os vereadores que querem fazer parte desse debate e pautar ações práticas de políticas” no campo da saúde mental.
A vereadora citou dados divulgados pela organização Think Olga, que apontam que empobrecimento, a sobrecarga das atividades de cuidado e o sofrimento psíquico geram uma maior pressão sobre a saúde mental das mulheres. “Essa pesquisa traz que sete entre cada dez pessoas diagnosticadas com depressão e ansiedade eram mulheres”.
A necessidade de levar o debate para outro grupo que também sofre especialmente de depressão e ansiedade – os adolescentes – também foi sinalizado por Ana Lúcia. No discurso, ela ainda salientou que o mês de setembro, marcado pela campanha de enfrentamento ao suicídio conhecida como Setembro Amarelo, cria uma oportunidade para tratar do assunto.
“Este mês de setembro é um mês emblemático para a gente tratar dessa questão e enfrentá-la sem preconceitos, estudando os percentuais e dizendo que a gente tem que ter política de enfrentamento para tratar da questão da saúde mental e do bem-estar”, disse. “Quando a cabeça adoece, nada mais na nossa vida acerta”.
Relatório- No grande expediente da reunião plenária da Câmara Municipal do Recife desta segunda-feira (11), a vereadora Ana Lúcia (Republicanos) retornou à tribuna e citou o relatório "Esgotadas: empobrecimento, a sobrecarga de cuidado e o sofrimento psíquico das mulheres", desenvolvido pela Organização não governamental - ONG Think Olga. O documento indica que 45% das mulheres brasileiras têm um diagnóstico de ansiedade, depressão ou outros tipos de transtornos mentais no contexto pós pandemia de covid-19.
“É o empobrecimento, a sobrecarga de cuidado e o sofrimento psíquico das mulheres e que, nesse relatório, deixa tudo muito claro. Entre 10 mulheres, sete são diagnosticadas com depressão e ansiedade. Depressão é a doença do século e faz parte do dia a dia de 6 em cada 10 mulheres brasileiras. Temos aqui algumas causas como estresse, baixa autoestima, irritabilidade, fadiga, sonolência, insônia e tristeza. Nós não apercebemos a dor dos outros com os quais convivemos. Às vezes, é um olhar que está gritando por um apoio, por um ombro e a gente prefere julgar com termos pejorativos como “louca” ou “depressiva”.
Ana Lúcia confessou que teve depressão pós-parto e citou outro documento: o do The Institute for Health Metrics and Evaluation apontando que 49 milhões de pessoas têm algum tipo de transtorno mental ou causado por uso de substâncias em 2019, no Brasil. “Destes 49 milhões de pessoas, 53% são mulheres. São muitos os fatores como a sobrecarga, as atribuições, baixa remuneração, além dos impactos que a pandemia trouxe fazendo com que os números subissem muito: isolamento, incertezas a instabilidade econômica, medo, luto e o sofrimento intenso que a gente via no redor do mundo. Tudo isso impactou na saúde mental de milhões de pessoas. O agravamento do sofrimento psíquico gerado pela pandemia evidenciou uma necessidade urgente da gente falar sobre o assunto. Eu tive depressão pós-parto, não consegui amamentar, nem fazer os cuidados que meu filho precisava. Então eu precisei, naquela ocasião, de um aparato familiar. Imaginem as mulheres que não têm esse suporte”.
No aparte, o vereador Paulo Muniz (SD) lamentou que muitos homens deixam as mulheres por não enfrentarem as doenças mentais dos filhos e que é preciso e valoroso as pessoas buscarem um tratamento quando têm algum problema. “Pelas informações, as mulheres são as maiores vítimas e 80% dos pais abandonam as mães de crianças especiais. A gente viu isso na microcefalia. Muitas vezes as pessoas têm vergonha de dizer que vão a um psicólogo ou psiquiatra. E alguns dizem (quando uma pessoa diz não estar se sentindo bem) que está mole, preguiça ou falta de Deus. A situação é muito mais grave e a depressão é a doença que vai matar mais no próximo século, segundo psiquiatras e médicos que estudam a área”.
Aline Mariano (PP) disse que, para reforçar a Frente que Ana Lúcia sugeriu, deu entrada em um requerimento na formação de uma Comissão especial. “Inclusive o requerimento entrou na pauta, mas houve um pedido de vistas. Era uma Comissão válida por 180 dias, suprapartidária, e muitos vereadores se interessaram. Mas Ana Lúcia já tinha dado entrada na Frente Parlamentar, algo ainda mais amplo e não só seria por 180 dias. Mas eu tenho certeza e confio na agilidade do presidente da Casa no sentido de instalar o colegiado. No Congresso Nacional temos pernambucanos que fazem parte da Frente Parlamentar Mista pela Promoção da Saúde Mental, cuja presidente é a deputada federal Tábata Amaral. Vamos trazer emendas parlamentares para ajudar na política de prevenção ao suicídio e à saúde mental”.
Ronaldo Lopes (PSC) enfatizou que o tema levantado por Ana Lúcia era muito importante, contou que já sofreu com a depressão e que era importante a criação de uma Frente na Câmara. “Sei a importância desse tema porque eu enfrentei uma depressão muito profunda. Começou com ansiedade e depois veio o transtorno da depressão. No primeiro momento, não quis aceitar, nem contar para a família e amigos porque naquela época, em 2008, as pessoas riam e diziam que era frescura. Infelizmente, a gente tem esses paradigmas e preconceitos e palavras contrárias ao apoio à pessoa que tem o problema de depressão. Foi um momento muito difícil na minha vida onde depois busquei tratamento. Gostaria de dizer que é importante essa Frente e dizer que pode contar com o meu apoio e dizer que estamos aqui juntos para poder ajudar mais pessoas”.
Victor André Gomes (União Brasil) lembrou de medidas que ajudam as pessoas com transtorno mental, a exemplo das estações de trem, no Japão, onde foram instaladas lâmpadas azuis capazes de evitar suicídios. Os cientistas chegaram a mostrar, inclusive, que as ocorrências caíram 84%. A luz azul pode afetar o estado de espírito das pessoas. Os indivíduos que passaram por estresse psicológico voltaram mais rápido a um estado de relaxamento quando deitaram em uma sala com iluminação azul. “Então, nós já temos indícios fortes de que a iluminação e a pintura das paredes ocasionaram a falta de estímulo para que o cidadão não retire sua própria vida. Por que não trazermos esses estudos de viabilidade técnica para nossa Comissão e a gente possa fomentar cada vez mais esse debate aqui, no Recife?”, argumentou. Levaríamos essas ideias para o poder Executivo e começaríamos a somar esforços para a prevenção”.
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Em 11.09.2023