Adoecimento e assédio moral nos bancos são tema de audiência
Na audiência, Cirne frisou a contribuição que a Câmara Municipal pode dar para as discussões sobre o tema. “É muito importante que o Sindicato dos Bancários traga esse debate para a Câmara Municipal do Recife. Apesar de a saúde mental e de o assédio moral no ambiente de trabalho serem um tema federal, é nas agências bancárias aqui na nossa cidade que ele acontece na prática. Trazer para a nossa Casa Legislativa, envolver o Legislativo nesse debate, dá visibilidade a esse problema”.
De acordo com a vereadora, as mudanças no ambiente do trabalho trazem desafios que precisam ser colocados em evidência. “É preciso reconhecer que houve uma alteração no perfil do adoecimento no ambiente do trabalho. E o Sindicato dos Bancários tem dados que demonstram que, hoje, mais do que o adoecimento físico, temos quadros de adoecimento mental. Foram quase 500 comunicados de acidente de trabalho no ano passado, de um total de 11 mil bancários. Ou seja, é um número muito elevado. Também as metas, cobranças de produtividade, assédio moral, um ritmo de trabalho que não é condizente com qualidade de vida. Precisamos conciliar a produtividade laboral com a qualidade de vida e redimensionar que qualquer trabalhador, antes de tudo, é humano”.
O presidente do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, Fabiano Moura, analisou os impactos que as mudanças laborais acarretam para trabalhadores e usuários da rede bancária. “Estamos vivenciando hoje um processo em que a categoria não está adoecendo: é uma categoria já adoecida, dada a pressão, a cobrança por metas cada vez mais abusivas, e a ganância desse sistema financeiro que quer tragar nossa dignidade e nossa saúde. Não vamos permitir isso e por isso estamos nessa luta”, disse. “O adoecimento da categoria bancária tem impacto direto no atendimento aos clientes, principalmente os mais pobres e necessitados, que precisam estar nas agências bancarias para serem atendidos. Essa população sofre com o adoecimento da categoria por várias razões. Uma delas é a falta de bancários dentro das agências para atender”.
Segundo Moura, as organizações sindicais já atuam para tornar o problema mais bem conhecido. “O grande desafio da nossa entidade sindical é tirar da invisibilidade o adoecimento e esse problema da categoria bancária. Por isso, estamos construindo dossiês por banco para serem entregues ao Ministério Público do Trabalho, às secretarias regionais do Trabalho, e aos órgãos públicos que tratam sobre a questão da saúde nos Estados e municípios”.
A superintendente Regional do Trabalho em Pernambuco, Suzi Rodrigues, também participou da audiência. Na ocasião, ela afirmou que o papel do Ministério do Trabalho e as Superintendência é de abertura para o diálogo e de busca por soluções que garantam a saúde dos trabalhadores. “No Ministério do Trabalho, temos espaço para mediação. Tanto as empresas quanto os trabalhadores podem ocupar esses processos para que, juntos, a gente possa achar a solução. A gente, do Ministério do Trabalho, precisa estar engajado com os movimentos, com a universidade, para que, juntos possamos achar soluções, porque uma empresa não ganha se o trabalhador está doente. Quando o trabalhador está bem, a empresa vai estar bem. A empresa precisa entender que, tratando bem aquele trabalhador, vai ter melhores resultados. O assédio moral não é bom para ninguém”.
Rodrigues informou que o Governo Federal elabora estudos específicos sobre o assédio moral no ambiente bancário. “O Ministério do Trabalho tem um grupo nacional que está debatendo o assédio moral e fazendo uma fiscalização no Brasil inteiro em três bancos: no banco Itaú já foi feito e já tem um relatório; no Bradesco terminou recentemente; e vamos começar com o banco Santander. Essa fiscalização visa a achar soluções e colocá-las à disposição dos empregados, dos bancários, e dos bancos”.
A mesa de debates da audiência pública ainda contou com a participação do secretário de Saúde do Sindicato dos Bancários, Alan Patrício, com a chefe do setor de Atenção à Saúde do Trabalhador e representante do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador, Karla Aciolly, e com o presidente da Central Única dos Trabalhadores em Pernambuco (CUT/PE), Paulo Rocha. Membros da categoria dos bancários também prestaram depoimentos durante o evento.
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Em 31.10.2023