Glossário Coletivo de Enfrentamento ao Idadismo 2ª edição é lançado na Câmara do Recife
A vereadora Liana Cirne explicou que o Glossário entrevista pessoas idosas, que foram ouvidas pelos organizadores para entender as diferentes formas que o preconceito se manifesta. "Essa iniciativa é uma valiosa ferramenta educativa e de sensibilização que busca combater o preconceito pela idade e promover uma sociedade mais inclusiva e respeitosa em relação às pessoas idosas. É uma iniciativa importante no esforço contínuo para combater todas as formas de discriminação e preconceito. O Glossário visa promover uma mudança na maneira como pensamos, sentimos e agimos em relação à idade e ao envelhecimento, destacando como a linguagem desempenha um papel fundamental nesse processo", explicou.
Na luta pelo combate ao idadismo, a parlamentar informou que está em tramitação na Casa de José Mariano a criação de a Frente Parlamentar de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa na cidade, que é o projeto de resolução de número 24/2023, para que o assunto seja debatido de forma mais direta. "Torcemos para que a criação dessa frente seja aprovada agora em outubro. Nós pretendemos fazer um cronograma de trabalho junto aos conselhos estadual e municipal, Poder Público e sociedade civil para debatermos sobre o tema. Além disso, também somos autores de um projeto de lei que institui a política municipal de enfrentamento ao idadismo, ele cria mecanismos de incentivo ao envelhecimento ativo e saudável", afirmou.
A especialista em gerontologia e uma das autoras do Glossário, Sandra Regina Gomes falou sobre a importância da possibilidade de conversar sobre o direito da pessoa idosa na Câmara do Recife que, segundo ela, é o mal que está comprometendo a qualidade de vida dessas pessoas. "Temos o direito de vivermos mais e vivermos bem e, para que isso aconteça, precisamos nos unir. Hoje, esse espaço representa a nossa união. É dessa forma que vamos enfrentar um País que antes era de jovens e hoje é da população idosa. E que sorte desses jovens que estão aqui e vão envelhecer. Nós somos pioneiros nessa luta pela garantia de direitos da pessoa idosa", garantiu.
Sandra Regina Gomes disse ter percebido um aumento no preconceito contra as pessoas idosas a partir de 2020. "Não é porque eu tenho essa pele, essa idade, que eu tenho que ser excluída do convívio, das opiniões, das decisões e, principalmente, da garantia de direitos, da cidadania. Por que aos 60 anos você perde a cidadania? Não faz sentido isso. Vamos viver. Nascemos com ela e morreremos com ela, esse é um direito afiançado pela nossa Constituição Federal. Estar aqui lançando esse Glossário no legislativo municipal tem um significado e uma representação fundamental".
Ainda sobre o tema, a especialista destacou a importância de ocupar espaços de fala para que o idadismo seja mais discutido na sociedade. Segundo ela, essa é uma das principais maneiras de acabar com o preconceito. "Nós, que temos mais de 60 anos, representamos mais de 34 milhões de pessoas no Brasil. Que seja possível olharmos para as pessoas mais velhas com respeito mas, para que isso aconteça, precisamos entender quando somos discriminados. A palavra 'ainda' é muito agressiva para nós, por exemplo. Quando você usa o diminutivo como expressão, você diminui e desconsidera o outro. Para que possamos garantir que a sociedade nos respeite, temos que divulgar as expressões preconceituosas, principalmente com as crianças, jovens, e nas universidades", salientou.
Ela também detalhou que é preciso considerar as diferenças da população. "Temos a velhice da população LGBTQIA+, da população negra, que representa 56% de nós, temos a população ribeirinha, a população quilombola. Eu gostaria de reconhecer que os primeiros dados apresentados pelo IBGE foram da população quilombola e da população ribeirinha. Isso é muito importante e interessante para que possamos ter a clareza de que estamos vencendo". Rose Barão, que esteve presente na reunião pública, recitou o poema "Idadismo". Também foi feita a entrega de certificados de voto de aplausos a Sandra Regina Gomes e a Zilda Cirne.
Por sua vez, o professor José Maria mencionou que piadas de cunho preconceituoso sobre pessoas idosas não devem ser replicadas. "Nós não podemos rir quando sofremos algum tipo de idadismo e nem podemos replicar o que chega para nós. Se usa a pedagogia da exclusão das coisas que são aplicadas, e uma forma que temos de multiplicar esse pertencimento enquanto pessoa idosa é trazer essa pauta para os locais que ocupamos". Já a coordenadora do Conselho Estadual da Pessoa Idosa, Margarida Santos, pontuou os problemas que as pessoas idosas sofrem no transporte público, sobretudo nos ônibus. "O Estatuto da Pessoa Idosa diz, no seu artigo 39, que a pessoa idosa tem gratuidade na passagem e só precisa apresentar o documento com foto, mas isso não acontece dessa forma. Estou fazendo um levantamento sobre isso em todo o País e vou levar o problema para o Conselho Nacional, porque há uma negação explícita desse direito".
Já Auxiliadora, mais conhecida como Dorinha, corroborou com a fala acima. "Atualmente eu ando bastante de transporte público, mas não entendo o motivo de os degraus dos ônibus do Recife serem tão altos, já que em outros cantos do mundo não são assim. E essa é mais uma das violências que sofremos", disse. A advogada e ativista pelos direitos humanos, Vera Baroni, também concordou com os depoimentos. "Eu sou usuária de ônibus e tenho muitas dores no joelho, o que é comum nessa faixa etária. É importantíssimo que possamos ver sobre essa questão e tentar solucionar, pois dificulta o nosso acesso ao transporte".
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Em 11.10.2023