Demandas e direitos das pessoas com hanseníase são debatidos em audiência
Segundo o vereador Felipe Alecrim, representantes do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (MORHAN) o procuraram para entregar uma carta do Fórum Pernambucano de Saúde em Defesa das Pessoas Afetadas pela Hanseníase, contendo várias demandas relacionadas aos cuidados e a garantia de direito dessas pessoas. “Há problemas nos exames de contato, de prevenção e controle de incapacidades, problemas de acesso a curativos adequados, tanto no nível básico como no especializado, o que contribui para a piora das feridas, que pode levar muitos a amputação de membros. O acesso às consultas e tratamentos com especialistas é insuficiente, além da precariedade no serviço de apoio à prevenção de incapacidades, que são as sapatarias e oficinas de produção de órteses e próteses e meios auxiliares. Como, por exemplo, as sapatarias do Lessa de Andrade, onde constantemente falta material para fazer os calçados”.
Ainda de acordo com a carta, o exame eletroneuromiografia que avalia a funcionalidade de diversos músculos nervos e raízes nervosas leva de dois a cinco anos para ser realizado e não há assistência, segundo o documento, aos pacientes que têm dificuldade. “Por falta de condição de transporte, o que é uma realidade que precisa ser observada pelo poder público. Por conta disso, acabam deixando de fazer o seu tratamento e não existem ações eficientes intersetoriais e interdisciplinares para controlar e eliminar a doença”, disse Felipe Alecrim.
Sâmmea Grangeiro Batista, coordenadora da Política de Controle da Hanseníase da Prefeitura do Recife, explicou como funciona a estrutura na gestão municipal e ressaltou o valor da parceria diante das demandas dos pacientes. “Nós somos responsáveis pelas atividades que são desenvolvidas no território com atividades de capacitação dos profissionais. Capacitamos médicos, enfermeiros e outros atores para que cada vez mais eles fiquem sensibilizados, que conheçam a hanseníase e possam ajudar. Recife possui oito distritos sanitários, cada um possui uma referência, com exceção do Distrito Sanitário V. Vocês têm os postos que são porta aberta para atendimento livre de preconceito. A proposta é que a gente saia com alternativas que realmente melhorem o acesso de vocês. Estamos enquanto parceiro. As demandas que saírem daqui a gente vai levar à Secretaria de Saúde. O objetivo de vocês também é o meu; a luta de vocês não é diferente da minha”.
Sérgio Paulo, médico dermatologista e professor da Universidade de Pernambuco (UPE), elencou dificuldades no combate à hanseníase e disse que vários pacientes abandonam o tratamento. “A primeira dificuldade é o exame dos contatos. Só 65% dos pacientes são examinados, ou seja, uma grande parte (35%) continua transmitindo. Segundo, é sobre o grau de incapacidade de avaliação: só 30% são avaliados ao final do tratamento. É um problema de educação do governo que deveria passar a divulgar os sinais precoces da doença como as manchas, ou dormência, até os as manifestações neurológicas que antecedem as manifestações cutâneas. E 13% dos pacientes abandonam o tratamento. É perigoso isso pela criação de resistência dos antibióticos e isso muito está ligado também à educação pelo preconceito que se tem contra a doença. Muitos pacientes têm vergonha de ir ao posto de saúde e abandonam o tratamento por medo de ser reconhecido. É uma doença curável e pouco contagiosa”.
Maurineia Vasconcelos, coordenadora do Morhan Recife (Movimento de Reintegração dos Acometidos pela Hanseníase), falou do direito do paciente de hanseníase de receber uma cesta básica e citou as dificuldades em locais de atendimento. “Os pacientes de hanseníase têm direito a uma cesta básica uma vez ao mês enquanto estiverem fazendo o tratamento. Porém, na prática, não funciona desta maneira. Apenas 50 cestas básicas são disponibilizadas e não são suficientes para a demanda e a coordenação tem que realizar um sorteio entre usuários. Queria mencionar a dificuldade no acesso às unidades de referência do município, como, por exemplo, a policlínica Agamenon Magalhães, do Distrito Sanitário V, onde um ambulatório não está funcionando para os pacientes de hanseníase. Desde a pandemia, os pacientes têm sido encaminhados a outros locais, o que causa dificuldade no tratamento. No Distrito VII, não tem uma sala para os profissionais realizarem os curativos, então deveria ter um local de melhor suporte”.
Márcia Maria Cavalcanti Marcondes, responsável pela Vigilância Epidemiológica das Doenças Endêmicas, disse que a luta é constante e que é necessário um aumento de detecção da doença. “Fico atenta sempre às necessidades e uma agenda como essa vai sempre existir porque os problemas são muitos e podemos criar um cronograma propositivo. Claro que a gente precisa melhorar porque os indicadores não são bons, tivemos uma queda de detecção e isso mostra que precisamos ir atrás dos doentes. Finalizamos, com muito esforço, a de tuberculose e a próxima é hanseníase porque são doenças que têm determinantes sociais. Não é só saúde, economia é importante, condições de moradia, farmácia e medicação. Eu também sou usuária do SUS, minha família é usuária, então é uma luta nossa, de união. E a gente se propõe, aqui, a levar demandas e buscar um novo encontro para que a gente possa ir avançando. É um trabalho contínuo”.
Pollyane Medeiros, assessora de comunicação do Morhan Nacional (Movimento de Reintegração dos Acometidos pela Hanseníase), exibiu slides e fotos de pacientes com hanseníase e lamentou os dados em Pernambuco. “De acordo com a Secretaria de Vigilância em Saúde Ambiental do Ministério da Saúde, Pernambuco registrou mais de 1500 novos casos de hanseníase. Destes, 77 foram diagnosticados em crianças menores de 15 anos. Criança com hanseníase quer dizer que tem um adulto com a doença transmitindo. Pernambuco é o terceiro colocado no triste ranking da hanseníase no país. A gente só perde para o Maranhão e Mato Grosso, então isso é um absurdo. Porque a gente precisa do diagnóstico precoce para evitar que fiquemos com sequelas. Todos esses cartazes aqui, que estão sendo levantados hoje, estão pedindo por tratamento e por exames. É preciso uma atividade, uma ação de busca ativa da doença e a gente vai encontrar casos de hanseníase. A gente sempre encontra. Então, é extremamente necessária a inclusão de políticas públicas. E acolhimento também. Hanseníase tem cura”.
Ao final da audiência, Felipe Alecrim citou ações que objetivam a melhoria do atendimento aos portadores de hanseníase. “Nós vamos fazer fiscalizações. Eu vou levar algumas pessoas comigo para visitar os postos de saúde. Ou seja, vamos cumprir a nossa prerrogativa de maneira independente. O importante é resolver e é uma obrigação de um parlamentar da oposição, ou da situação, prover políticas públicas que façam a diferença na vida das pessoas. E esse Poder pode fazer a fiscalização e exigir que a Prefeitura faça as entregas que o povo da cidade do Recife precisa”.
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Em 24.11.2023