Transporte público do Recife é tema de audiência
Ao dar início à audiência pública, Aline Mariano recordou que fez uma visita à Estação Joana Bezerra para observar a movimentação do sistema de transporte público e lamentou a situação no local. “A última fiscalização in loco que fizemos nos terminais integrados de ônibus e metrô, há pouco mais de dois meses, foi em um dia de semana mostrando a realidade de quem precisa usar os modais de transporte, na estação Joana Bezerra. E confesso a todos vocês que, durante todo esse tempo que tenho na Câmara Municipal do Recife, essa última fiscalização que fizemos foi uma das mais chocantes. Além de encontrar o metrô sucateado, vimos muitos vagões sem ar-condicionado, painéis eletrônicos quebrados, elevadores de acessibilidade sem funcionar e superlotação. Também pudemos registrar, em vídeo, a falta de respeito aos cidadãos. A palavra é humilhação”.
A parlamentar também citou problemas encontrados pelos profissionais que trabalham no sistema de transporte público e citou dados de um relatório. “Motoristas fazendo a dupla função de ter que dirigir em suas grandes jornadas e fazer a função que antes era do cobrador profissional; rodoviários que sofrem assédio de passageiros e que vivem sob o medo de assaltos constantes; mulheres submetidas ao assédio em coletivos lotados; trânsito caótico com calor e estresse excessivos. O Relatório Global sobre Transporte Público, realizado pela empresa Moovit, apresentou uma análise dos problemas enfrentados pelos passageiros de transporte público nas principais cidades do mundo. Segundo a pesquisa, os usuários de transporte público do Recife têm que esperar, em média, 27 minutos para começar a viagem. Considerando o cenário nacional, Recife é a cidade no Brasil em que os passageiros esperam o ônibus ou metrô por mais tempo”.
O presidente do Sindicato dos Rodoviários do Recife e Região Metropolitana, Aldo Lima, disse que há vários tabus no transporte público que precisam ser superados. “O problema da violência no transporte público, o sucateamento da frota e o mínimo de uma condição de trabalho aos rodoviários e rodoviárias são tabus a serem superados. A péssima condição do serviço perdura há décadas porque quando se pensava em transporte público, era imaginado da seguinte forma: superlotar os ônibus, submeter a população a uma situação degradante e estressante de serem transportados como se estivessem dentro de uma lata de sardinha. Essa é a realidade. É lamentável haver duas Leis que obrigam ar-condicionado nos ônibus na cidade e, até os dias de hoje, as empresas não cumprem com a Lei”.
Representando a Autarquia de Trânsito e Transportes Urbanos do Recife (CTTU), Antônio Henrique de Oliveira, citou as ações da pasta. “O que cabe à cidade é o de prover estrutura para os modos sustentáveis junto com um Plano Diretor da cidade, aprovado desde 2021. Então o Recife, hoje, consta com 45 km de faixas azuis em nossas principais avenidas e 183 km de malha cicloviária. Nesse final do mês, a ciclovia da Agamenon Magalhães será entregue como uma primeira perimetral da cidade e poderá fazer um estímulo à bicicleta para quem não precisa usar o transporte individual”.
Marcela Loyo de Queiroz Campos, da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), explicou o trabalho desenvolvido pelo órgão e as iniciativas na busca de recursos ao Governo Federal. “Somos uma empresa pública federal, 70% subsidiada pelo governo, como toda empresa de transporte metroviário no mundo, então a CBTU depende do repasse orçamentário do Governo Federal. Estamos, praticamente, toda quinzena em Brasília apresentando as necessidades da CBTU, mostrando os projetos e a necessidade de aporte financeiro para que a gente possa recuperar o transporte de qualidade que oferecemos em anos anteriores. Temos consciência de que o serviço hoje está a desejar, mas temos um corpo técnico comprometido e que mostra todos os dias a sua capacidade de trabalho”.
Já o Promotor de Justiça da 36ª Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania da Capital, Leonardo Brito Caribé, representando o Ministério Público de Pernambuco (MPPE), disse que era essencial a fiscalização do tema pela Casa de José Mariano e afirmou que o transporte público é caro, ineficiente e de péssima qualidade. Ele também citou as visitas que o órgão tem feito nas garagens de empresas e fez um apelo à Câmara.
“Numa pesquisa da Conferência Nacional da Indústria, que identificou problemas comuns com a nossa Região Metropolitana do Recife, 45% dos entrevistados disseram que consideram o transporte público ruim ou péssimo. Isso é um índice muito alarmante. Em relação à qualidade dos ônibus, nós temos feito, nos últimos meses, inspeções em garagens de empresas, inclusive o sindicato tem participado conosco, e algumas empresas não investem praticamente nada nos seus ônibus. A situação de algumas linhas é caótica e alguns estão caindo aos pedaços. São ônibus que não oferecem nem segurança, nem conforto ao usuário. Sobre a brevidade do tempo de espera, quanto no tempo de percurso, é importante chamar à responsabilidade dos poderes públicos municipais porque a gente sabe que muitas questões estão relacionadas com as vias, muitas delas sem condições mínimas de acesso. Faço um apelo à Câmara para que cobre do Grande Recife Consórcio a efetivação da licitação que garantirá a regularidade do transporte público”.
Os vereadores Davi Muniz (PSB), Rinaldo Junior (PSB), Victor André Gomes (União Brasil) e Ivan Moraes (PSOL), membros da Comissão de Representação Suprapartidária que acompanha o transporte público do Recife, estiveram presentes e fizeram questão de explanar os problemas enfrentados pela população diariamente. “O nosso transporte complementar vem sofrendo há muito tempo e está defasado. Os empresários, só no ano passado, receberam cerca de R$ 92 milhões de reais de recursos, R$ 8 milhões por mês de subsídio”, disse Davi Muniz. “É imperdoável a falta, nesse evento, do Grande Recife Consórcio. Iria perguntar pelo retorno do benefício da meia passagem aos domingos e a retirada dos 200 ônibus de circulação. Não se justifica”, enfatizou Rinaldo Junior.
Já Victor André Gomes (União Brasil), citou que 60% da população da Região Metropolitana utiliza o quarto pior transporte público do mundo, lamentou a atuação do governo de Pernambuco e exaltou o poder da Câmara Municipal do Recife. “O Consórcio Grande Recife administra o quarto pior transporte público do mundo. É um caos. Temos um governo estadual paralisado, que não conversa com o povo e sentimos na pele que a Câmara é silenciada quando chamamos o Grande Recife, para debater, e ele não vem. Os recifenses pagam uma tarifa caríssima. A Câmara Municipal do Recife é libertária, encorajada e não vamos nos silenciar”.
Ivan Moraes (PSOL) destacou que a Câmara nunca se furtou de discutir a mobilidade, ressaltou o papel do poder público, afirmou que as passagens são altas demais e a população não tem condições financeiras de se locomover. “Ano que vem, podem observar que a Urbana vai anunciar que precisa aumentar a passagem porque o povo está deixando de andar de ônibus. Não existe uma forma do transporte público, e eu estou falando de ônibus, ser financiado apenas com passagem. Não dá. O poder público tem que entrar com recurso, regulamentação e regras. Ele mesmo executar o serviço, exercer o seu fator de controle e de subsídio para garantir que a empresa faça um serviço que é público. E se é para municipalizar de novo, vamos municipalizar. Na prática, o povo está é deixando de se locomover. Ele está preso em casa”.
Ao final do evento, a vereadora Aline Mariano citou encaminhamentos, tais como: adequações nas condições de trabalho e as duplas funções dos rodoviários; ar-condicionado, transporte complementar e a publicação de comprovação de receita com as peças publicitárias nos ônibus, entre outros. “Com essas demandas, vamos ter um plano de trabalho com os demais vereadores e, gradualmente, iremos anunciar à sociedade os próximos passos”.
Clique aqui e assista a matéria do TV Câmara do Recife.
Em 08.11.2023